light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, December 11, 2012

duas vezes em que me insurjo contra as classificações e em que regresso com as classificações tão claras como um mapa, as ruas que outros já percorreram com minúcia, descrevendo cada detalhe, olhando para cada imperfeição da parede e em que eu entro despreocupada sem grandes elaborações no pensamento, a entrada num livro que eu prefiro e a que julgo ser a porta da frente. foi o southern gothic nas histórias de Flannery O'Connor e o pós-modernismo de Pamuk.

um monumento este livro, que se vai demorar na minha vida apenas um pouco menos do que a Montanha Mágica, e que leio à mesma velocidade, lentidão e muitas vezes velocidade negativa, ler os mesmos capítulos várias vezes, voltar atrás em vários sítios, como se também eu deambulasse na labiríntica Istambul e como se também eu acompanhasse as multidões que atravessam a ponte de Galata. aliás, gostaria de traçar a caneta verde os percursos das várias figuras sobre o mapa de Istambul, tal como Galip que sobrepõe sob a luz os mapas de Damasco, Istambul e Tripoli (era Tripoli?)

o tema, e talvez a razão de ser da atribuição da etiqueta pós-modernista, é a identidade, individual ou colectiva, a identidade que se desfaz até à confusão entre o protagonista, o perseguido, o perseguidor e o próprio leitor, o narrador, o autor, todos se encontram num jogo de espelhos tremendo que se desenrola no espaço-labirinto e carregado de estranhos sinais - nos rostos, nos manequins, nos mapas, nas crónicas de jornal - o barulho que jamais se cala dos sinais, a impossibilidade do silêncio de uma cidade que cresceu de um para catorze milhões em pouco mais do que uma vida.

o cinema, ligado à vontade indomável de ser outro, um fio condutor da narrativa e isto mesmo tudo o que pensei por causa do L. que tem andado atormentado (pure awe) com a cara desfigurada de Alexandra. nesta altura de dissolução planetária, de alteração das regras da racionalidade, os acontecimentos mais básicos parecem missões impossíveis: envelhecer simplesmente, manter um pensamento linear, aprofundar o silêncio sem os carnavais-zen, reconhecer-se.

por outro lado, o esforço conservador não evita algumas questões: conservar o quê na corrente que passa, conservar qual paisagem protegida, que camada do tempo se pretende parar, que encenação da história se pretende suspender.


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