light gazing, ışığa bakmak

Monday, December 30, 2013

o Passado de Farhadi ("The past is never dead. It's not even past.")

o Passado de Farhadi é semelhante à sua Separação: tudo começa no desequilíbrio familiar causado pela mulher. o homem deste casal (a mulher e o seu ex-companheiro são mais o casal do que a mulher e o seu companheiro actual) é calmo, compreensivo, cozinha bem, gosta do seu país e da sua cultura, arruma, limpa, acalma as crianças e faz reparações em casa; ou seja, é uma quase impossibilidade que de certo modo me fez lembrar Frozen e a troca de papéis entre o homem e a mulher - todas as raparigas são aguerridas, os rapazes-heróis são simples, têm bom coração e não costumam gostar de lutar. mas se os objectivos ocultos da disney são o empowerment da mulher, os objectivos ocultos de Farhadi são o empowerment das ideias mais conservadoras: o novo papel da mulher na família conduz à desagregação dessa família. não posso dizer que isto é falso mas basear a instituição família na mulher sem escolha também não me parece uma maravilha.

apesar de todas as motivações ocultas, a história desenvolve-se como uma enorme bola de neve que se precipita pela encosta e que ninguém já controla. a partir do desequilíbrio inicial, as personagens estão perfeitamente limitadas a ver os acontecimentos, tudo lhes escapa menos a imensa tristeza a que estão condenadas. neste aspecto, a vida familiar contemporânea é caracterizada bem próximo da tragédia. o futuro, seja ele qual for, será sempre uma condenação. quando a filha mais velha diz já ter conhecido três homens à sua mãe, entendemos que este é o ponto central. a beleza que Farhadi cria, e talvez o que lhe tenha possibilitado uma produção francesa, é a sua capacidade de expor e nos fazer sentir a profunda tristeza da mulher: o espaço enorme entre o seu desejo e a sua realidade. todas as personagens femininas sofrem este espaço, afinal o local onde vivem.

como são as mulheres iranianas? pergunta o rapaz. para comeres um jantar assim de novo tens de casar com uma mulher iraniana, tinha dito o homem. e no entanto nós sabemos que quem cozinhou foi ele, o homem.


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