light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, January 18, 2011

Irène, Alain Cavalier



o mais poético dos filmes, das imagens, dos sons, das palavras, dos espaços vazios (com pessoas), da voz, da memória. dizer que é a memória de um cineasta a quem morreu a mulher é o mais redutor que se pode dizer sobre Irène. outro engano: chamar-lhe documentário. Irène morreu pelo menos desde Perséfone, talvez muito antes até. o desejo de Dante em Beatriz:

Lucevan li occhi suoi più che la stella;
e cominciommi a dir soave e piana,
con angelica voce, in sua favella:
(...)
l'amico mio, e non de la ventura,
ne la diserta piaggia è impedito
sì nel cammin, che vòlt'è per paura;
e temo che non sia già sì smarrito,
ch'io mi sia tardi al soccorso levata,
per quel ch'i' ho di lui nel cielo udito.
Or movi, e con la tua parola ornata,
e con ciò c'ha mestieri al suo campare,
l'aiuta, sì ch'i' ne sia consolata.

no Canto II. até Camões, "Se lá no assento etéreo, onde subiste, / Memória desta vida se consente", tantas Irènes já partiram no meio do amor e é neste lado da memória poética que está a mulher que a voz visita ao longo do filme. encontra-a em todo o lado, na pintura, no olhar da foto, em todos os objectos, na fotografia de um portão. deste encontro da morte na arte, esta fuga, há um mar a dizer. como há da vida insuflada nos objectos do dia e da noite, salas vazias e cortinas. e ver as imagens pelo pensamento de alguém de quem quase tomamos a voz: quando se vê Cavalier, finalmente, como num choque se entende que não é nossa afinal aquela boca que fala, tão colados estão os gestos a tudo o que vemos. somos um espectador viúvo. em quarto lugar: a beleza de tudo. um filme transformador do mundo e talvez um gémeo trágico de Copie Conforme (o outro existe realmente em nós?). ainda mais: um outro modo de dizer "What We Talk about When We Talk about Love".



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