É no Ensaio sobre a Cegueira que o cão lambeu a lágrima da mulher que por um instante quebrou. É esse o cão que ficará depois de Saramago partir. E o cão, tal como Saramago, lambeu a lágrima da mulher.
Só depois de ver Blindness é que me apercebi de como Saramago trata tão bem as suas mulheres. Assim mesmo como as vejo: as continuadoras, as que tratam, as que sabem mais, as que vêem -tanto no Ensaio como no Memorial- as que constroem, as que resistem à violência, as que perdoam e as vítimas. Não são muitas as mulheres-carrasco ou as mulheres-vaidade em Saramago.
Não posso ser imparcial. Saramago está na minha prateleira de cima, todo enfileirado. Alguns livros de reserva com medo de não ter mais para ler. Quando soube que Fernando Meirelles ia pegar no Ensaio sobre a Cegueira para o levar ao cinema fiquei contente. Depois da Cidade de Deus, julguei que Meirelles tinha a empatia humana necessária para ler Saramago. A julgar pela reacção de Saramago quando viu o filme pela primeira vez -chorando como a sua mulher-vidente- penso que não estive longe. As críticas ao filme são bastantes, não recolhe unanimidade. O livro sim, curiosamente, parece ser considerado uma obra prima por onde o filme o leva. Já o transpor de Meirelles arrasta reparos e não leva nota máxima na generalidade das críticas que li.
Para mim, o Ensaio é um grande livro, dos melhores de sempre escritos em português. E o filme de Fernando Meirelles traduz esse livro sem desvios. Foi quanto me bastou.
light gazing, ışığa bakmak
Wednesday, November 19, 2008
as mulheres que choram
Publicado por Ana V. às 10:32 PM
TAGS Biblioteca de Babel, O meu cinema é o meu cinema, Saramago
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