na esquina da António Augusto Aguiar uma casa rés-vés com o abismo está emparedada. na fachada só metade da porta alta e de madeira trabalhada a deixar adivinhar a casa que morava por detrás do cimento novo. lá no topo uma cúpula de vidro, tal como as do Porto. talvez Lisboa também fosse de vidro. um pouco mais acima na Fontes Pereira de Melo, rua larga e vazia, barata, onde só os Gémeos deixaram algum carácter, um miúdo imberbe agarra-se ao telemóvel, seguindo uma curta comitiva que sai da Conservatória. pulover cor-de-rosa, camisa e uma gravata carmesim demasiado larga. as calças de vinco presas pelo cinto e sapato brilhante. casamento curto de meio da tarde e bouquet vermelho para noivos de meia idade e quem sabe que casamento será na sequência dos anos. à frente um par de gémeos, de igual.
light gazing, ışığa bakmak
Tuesday, July 27, 2010
um Whisky que veio do Uruguai
na tragicomédia triste de Whisky estão ainda mais vazias as ruas de Montevideo (será que eles a viram assim, há vinte anos atrás?). aqui um lampejo rápido do que vou sempre ligar a Shirin. a cara da mulher no cinema, sozinha como me sentei hoje no cinema a olhar para ela. na tela, a dela, uma história de amor, seja ela qual for. a mesma que se espelha na sua música portátil e na televisão do serão. Tony Ramos e novelas brasileiras. o mesmo recurso para eles no jogo de futebol. se ela sonha, eles descarregam fúrias que é suposto terem, como homens. em ambos o espaço vazio que então se torna visível. este casamento é tão real como tantos, damos o braço para o retrato.
a vida é feita de demasiado pouco, poucos espaços, poucos objectos, poucos traços de diferença em cada um. e no entanto, o que se imagina é maior do que o que se vê.
imagens de um realismo da pobreza ou mesquinhez, popular em muitas imagens, com uma melancolia subtil, como aqui se diz, em cada uma das cenas. referência: Jarmusch. nem tanto, talvez visualmente com Mystery Train. mas as personagens de Jarmusch são rochedos e estas quase não existem. para ver, apesar dos seis anos de atraso.
descoberta: Piriápolis.
Publicado por Ana V. às 9:36 PM
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