light gazing, ışığa bakmak

Sunday, January 9, 2011

"sem uma mulher não duravas uma semana na estepe"

Tulpan. a possível dificuldade em imagens que se podem considerar étnicas é ficar-se pelo lado exótico da história e pelo postal do sítio. e ainda a curiosidade pessoal do deixa ver como é o Cazaquistão e a estepe, com rasto na memória colectiva que dificulta olhar. Sergey Dvortsevoy chega com herança de documentário e acredita-se nele, é mesmo assim a estepe e este é o modo de vida que quem lá sobrevive. havia a de Chekov, a de Genghis Khan e agora Tulpan.

Asa vive com a família da sua irmã, pastores de um rebanho que não é seu e que se movimentam pela estepe ao sabor da vontade do dono do rebanho. a planície é imensa, varrida pelo vento, sem árvores, sem água, só vegetação rasteira e tudo é da cor do pó. o céu é imenso. os animais rodeiam a família e fazem parte dela, um grupo autónomo no que nos parece um deserto quase inabitável. e no entanto Asa olha e diz que bonito! o seu sonho é ter um rebanho, para o conseguir tem de arranjar primeiro uma mulher. mas Tulpan, a mulher que deseja e que nunca vemos, quer a cidade.

de certo modo lembrou-me a Uma Andorinha Fez a Primavera, o desejo de terra e de uma vida significativa. diz-se muitas vezes em Tulpan: quem precisa de ti na cidade?  os pastores querem partir, daqui também, Asa quer ficar e trazer o que viu na cidade, o que vê nas revistas. a estepe é o seu paraíso. não lhe posso chamar ético, talvez seja mais ambientalista do que todos os filmes que tenho visto recentemente. a história de amor não foi com Tulpan afinal, mas com a estepe e a ovelha que vemos nascer.
e as imagens recentes demais, um filme que vai crescer para mim com o tempo da memória.

e uma opinião com a qual concordo na totalidade:


a crítica do inevitável NY Times: "and the viewer quickly loses the sense of their foreignness, which is replaced by a feeling of recognition".

uma história que levou quatro anos a realizar: entrevista com Dvortsevoy.
e uma outra longa entrevista, aqui. (o pastor, que sopra para dentro da boca de uma ovelha morta é um cantor de ópera)

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