light gazing, ışığa bakmak

Thursday, October 22, 2009

Caim

e por constrangimentos de vária ordem só hoje terminei Caim, o centro de toda a polémica. é curioso que o batalhão enfileirado de opositores afirma sempre à cabeça que não leu nem vai ler, como se fossem demasiado preciosos para botar dedo em tal baixeza. podiam ler, até fazia bem, porque iam encontrar pelo menos mais mil quinhentos e trinta e cinco motivos para desprezar o livro e o autor. (o argumento que prefiro a todos pelo completo nonsense é o de que Saramago está a fazer marketing, acho que sim, precisa imenso).


faz-se a viagem da leitura na companhia de Caim-caim, um companheiro razoável mas não excelente porque não desperta empatia. tem demasiados defeitos, o que costuma ser positivo nos heróis, mas não é humano suficiente. é um intocável, não é dos nossos. a história começa leve e com humor, que me lembrou o humor do Elefante, mas a certa altura guina para o confronto. como se não houvesse mais nada a perder, ou a ganhar, ou a mentir, não há tempo para mentir. no final o confronto não tem fim, como só podia ser, em público como massa de gente, e em privado, cada um a falar com o seu destino.

e em notas deslargadas. a leitura que é feita não é muito diferente da que fiz quando andei por aquelas terras que me fascinaram (leitura normal e mediana de qualquer pessoa normal mediana que leia hoje o livro como narrativa). adoro O livro. nunca me tinha ocorrido o paralelo entre isaac e jesus, que revelação. o episódio de isaac é central neste livro, dele parte tudo o resto, mais do que o gesto de caim. as personagens preferidas ( e assim não tinha de ser?) são os anjos e demais aparentados. há falta de mulheres que aqui só estão para procriar (!), procriação é coisa que não falta em todo o livro, semelhanças com a Bíblia que Saramago declarou ser O livro, como o vejo também (e ao lado do qual "ou em cima" coloca o Dom Quixote). final dramático em que o papel assumido por caim costumava pertencer, tradição romântica, a satã-lucifer, anjo caído. gosto sempre: dos detalhes quotidianos introduzidos no universo épico-religioso, a contagem das cabras, a descrição das várias profissões, um baixar à terra. para lembrar que no centro está o homem. humano e humanista como costumo preferir as coisas. [ah e.. querem ler, leiam. não querem, não leiam]

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