light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, November 9, 2010

"Copie Conforme", Abbas Kiarostami



a parte clara: este é talvez o filme que mais gostei de ver nos últimos largos tempos, com o adicional de ter ouvido Kiarostami falar durante cerca de uma hora depois da exibição de Copie Conforme, o seu primeiro filme europeu.

e o resto: o choque aqui - para além de tocar no coração de ser humano (tão iguais em todo o lado, diz ele), da história particular e de todas as comunicações entre homem e mulher que são possíveis, da projecção no outro do que somos nós, da ideia do objecto que não podemos tocar, a essência, Platão e as sombras, da angústia de ser só e da morte, da visão livre [no escuro da prisão dizia o escritor podem-me isolar e tirar tudo mas vejo ainda imagens dentro de mim e falo palavras em silêncio até ao fim] e única de cada um de nós [cada cérebro é como um rosto único, dizia Damásio nas notícias da 2], da Toscânia imaginada como de todos os lugares imaginados, do choque absurdo que é o passar do tempo entre duas pessoas aqui desconhecidos e ali depois de quinze anos de vida (isto é a vida), do desejo esfomeado de ser abraçado, das cópias das cópias das cópias que entram nos sentidos, na origem e o que é a origem, o princípio- e podia continuar.       o choque - foi ser pessoal tão pessoal que tudo se esborrata, as sensações já vistas, as palavras já ditas, já estive ali e fiz aquilo, já sofri aquilo e esta soma de imagens e sons e expressões na cara de outra pessoa resumem aquilo que é o meu mundo inteiro, tão difícil foi sair da sala e olhar para a rua e reconhecê-la, esta não estava lá dentro, esta é minha. e  isto não é uma confissão pessoal e indiscreta e um segredo, isto, mas o efeito 'real'-'irreal' de Copie Conforme. rever e rever, tão certeiro como Happy Days. with a happy twist.

a Piazza della Signoria [limonada, a minha praça] foi a inspiração para este filme? aquela cena foi uma cena da minha vida, disse Kiarostami.

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