light gazing, ışığa bakmak

Saturday, April 4, 2009

"éloge de l'amour", Jean-Luc Godard

["Lella 1947", Edouard Boubat] "Os tempos mudaram, sim. Há um sentimento de ontem. É desencorajador. Há demasiadas mudanças no ar que ainda não têm expressão. Goza-se com 1900, mas estamos numa época análoga, calculo que seja igualmente ridícula. E talvez igualmente encantadora. Não sei, a memória é complicada. Quando foram presos em 42, o avô do Edgar tinha a idade do pai. Eram sócios na galeria. Eu tinha 10 anos e brincava com a filha dele no parque. Estava loucamente apaixonado. Ela escolheu outro. Então disse-lhe... citando Jouvet, 'Serás feliz com esse infeliz?' O que é feito dele? Com os 50% a Hélène comprou-lhe um Gordini e depois um Talbot. E depois suicidou-se em Indianapolis no mesmo ano que Ascari. Então a tua dívida fica paga. Não, mas fica a memória. Não, mas fica a memória. Sim, as obrigações da memória. Não, meu caro, o direito. A memória não tem qualquer dever, leia Bergson. Ou então continuo... continuo ainda apaixonado. Sabe, era parecida com a jovem fotografada por Boubat, olhando o infinito com um ar decidido ostentando um soutien preto sob a blusa branca. Manteve o contacto com ela? Não, ela suicidou-se. Felizmente não tinha assinatura. (...) Sabe que a conheci por mero acaso, num serão, em casa do Soulages. Foi a filha de Antoinette Sachs que nos apresentou. Penso que é a madrinha do Edgar. Talvez ele esteja ao corrente da situação, mas não disse nada. Ainda assim é muito. Mesmo sendo um bom projecto. Não faço ideia do que se trata. Uma ópera, talvez, um filme. Um filme no estilo de documentário. Mas não entendo o conceito. Vamos sair. E qual é o título? Qual quer coisa "do amor". Ode, acho eu. Não é estranho? As obras de arte exigirem títulos, como no tempo da nobreza?"

"`Eloge de l`amour` possesses more ideas and originality in a single frame than most films manage in their entirety." (daquiici. aqui. Le Bleu du Ciel. 
 
"A fada tocou na rã com a varinha e apareceu uma princesa. O imperfeito constrói uma imagem presente. Todos os problemas profanam o mistério. E o problema é por sua vez profanado pela solução. Não é por acaso. O que quer dizer com isso?  Há a entrada de serviço e a entrada principal. Eles entram pela principal para o apartamento do mundo e deixam para nós a entrade de serviço. Palavras. Pela nossa utilização da fala apercebemo-nos de como as palavras nos apresentam ideias. O homem fabrica ideias. É um intrépido fabricante de ideias. A situação actual deriva dessa faculdade. Conhece a frase de Santo Agostinho 'A medida do amor é amar sem medida?' Sim. Penso numa coisa. Quando penso em alguma coisa penso, no fundo, noutra coisa. Sempre. Só se pode pensar em alguma coisa, quando se pensa noutra coisa. Por exemplo, quando se vejo uma paisagem nova, ela é nova porque a comparo mentalmente com outra paisagem antiga, minha conhecida.       Eis como tudo se desvanece na minha história. Restam-me apenas as imagens do que passou tão depressa. Saio nos Champs Élysées com mais sombras do que algum homem alguma vez levou consigo. Depois ouve-se alguém a chegar. Ela escreve qualquer coisa. Se lhe perguntassem, se fosse a sua vez, pudesse escolher: filme, teatro, romance ou ópera? O que escolheria? Temos um projecto. Narra qualquer coisa da História... E essa coisa é um dos momentos... E o primeiro momento. Lembra-se dos nomes? Talvez não se tenha dito. Talvez não se tenha dito."


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