que hoje é bloomsday. dêem-me um Proust recheado de madalenas todos os dias.
(a segunda série deu um salto de alcance que a primeira não tinha, enredada em problemas de mulheres, desse modo mesmo, com a conotação negativa antiga. a segunda anunciava, logo com o cerco austríaco, uma mudança de ponto de vista. o horror à altivez da representação humana, contrapor Rumi a Dante, e dizer 'o teu inferno é aqui, na palma da minha mão'. de novo, um tratado sobre o poder e, sobretudo, ver que os velhos tronos e dominações são como hoje, como sempre. essa guerra não terminou, alguma guerra chega a terminar?)
light gazing, ışığa bakmak
Tuesday, June 16, 2015
bloomsday e o século magnífico
Publicado por
Ana V.
às
1:14 PM
0
comentários
TAGS James Joyce, Marcel Proust
Sunday, April 5, 2015
paris, paris, paris, paris, paris
Marcel, Billetdoux e Modiano. ah!
("A tristeza de Nathalie transformou-se em náusea.", diz Billetdoux em Cuidado com a Doçura das Coisas.)
Publicado por
Ana V.
às
10:53 PM
0
comentários
TAGS Marcel Proust, Paris15, Patrick Modiano, Raphaële Billetdoux
Thursday, April 2, 2015
Saturday, March 28, 2015
' Votre âme est un paysage choisi'
para passar a algo mais agradável. a forma física palpável da língua francesa e porque não é possível ler Proust e ser a mesma pessoa. como ser atravessado por raios de sol ou coberto por nuvens e ficar dominado pelas penumbras do dia, ser inundado de sensações. ter pena até de quem está ausente.
aqui Verlaine com mais poemas e a sua tradução inglesa.
Clair de lune
Verlaine
Votre âme est un paysage choisi
Que vont charmant masques et bergamasques
Jouant du luth et dansant et quasi
Tristes sous leurs déguisements fantasques.
Tout en chantant sur le mode mineur
L'amour vainqueur et la vie opportune,
Ils n'ont pas l'air de croire à leur bonheur
Et leur chanson se mêle au clair de lune,
Au calme clair de lune triste et beau,
Qui fait rêver les oiseaux dans les arbres
Et sangloter d'extase les jets d'eau,
Les grands jets d'eau sveltes parmi les marbres.
- -
a magia da educação moderna vem toda da Finlândia que nem quer chumbar alunos. não é por nada, mas algo foi muito bem feito no liceu Condorcet durante muito tempo.
On ne compte plus les anciens élèves devenus écrivains, de Verlaine à Proust, de Labiche à Vallès, de Laforgue à Cocteau, de Vigny à Valéry, de Martin du Gard à Obaldia. D’autres se sont illustrés en philosophie (Bergson, Brunschvicg, Aron, Lautman, Lévi-Strauss), dans les sciences et les techniques (Louis Renault, André Citroën, Marcel Dassault, Jean-Paul Guerlain), les arts (Toulouse-Lautrec, Poulenc, Nadar, Cartier-Bresson, Buren) –et même la chanson (Serge Gainsbourg, Jacques Dutronc, Maxime Le Forestier).
Plusieurs revues littéraires sont nées au lycée (notamment La Revue blanche, qui a joué un très grand rôle dans l’histoire du symbolisme) et ce sont d’anciens élèves du lycée qui ont lancé le mouvement pictural des Nabis (Edouard Vuillard, Paul Sérusier, Maurice Denis, Ker-Xavier Roussel) ou inventé la mise en scène moderne (Aurélien Lugné-Poe, André Antoine, Jacques Copeau).
Publicado por
Ana V.
às
1:40 AM
0
comentários
TAGS Marcel Proust, Verlaine
Thursday, March 19, 2015
paternity or where the first line of Museum of Innocence comes from
(if one could ever pinpoint a single source): "Se, em lugar da desgraça, for a felicidade, pode acontecer que só vários anos depois nos recordemos de que o maior acontecimento da nossa vida sentimental se deu sem termos tempo de lhe prestar uma longa atenção, e quase sem tomarmos consciência dele (...), Proust, claro, no seu segundo volume.
( “It was the happiest moment of my life, though I didn't know it.”)
Publicado por
Ana V.
às
8:39 AM
0
comentários
TAGS Marcel Proust, pamuk
Friday, March 13, 2015
quem
está a mentir olha nos olhos a não ser que seja honesto. mas, Proust, quem defende as ideias que ouviu as outros defende-as mais alto e com total e maior convicção do que defenderia as próprias ideias. ah Proust.
(o que terias sido sem asma, sem o carácter melancólico e pensativo, se te pudesses ter aproximado sem reserva daqueles que olhavas)
Publicado por
Ana V.
às
11:40 AM
0
comentários
TAGS Marcel Proust, Respiração, Stuff
Sunday, March 8, 2015
que mar
página sim página não, sublinharia ou dobraria as doggy ears ao canto das páginas ou colocaria post-it's coloridos como fazem os advogados nos seus códigos civis, mas esta nota não escaparia:
"Mas, antes de tudo, tinha aberto os meus cortinados na impaciência de saber qual era o Mar que naquela manhã brincava junto à praia, como uma nereida, Porque nenhum desses Mares ficava mais que um dia. No dia seguinte havia outro que às vezes se parecia com o anterior. Mas nunca vi o mesmo dois dias seguidos."
Proust
Publicado por
Ana V.
às
12:16 AM
0
comentários
Friday, March 6, 2015
Grand Hotel Balbec - Cabourg
num dos debates televisivos, o prestidigitador de palavras Ricardo Araújo Pereira discutia com os outros elementos de um governo pouco sombrio sobre o poder real das palavras de fazer alguma coisa acontecer e discutir não é a palavra certa. no caso de Balbec, e dando continuidade ao interesse de Proust pelos nomes, o nome da cidade de Cabourg foi alterado para Cabourg Balbec pois a Balbec de Proust será eventualmente mais real do que a Cabourg de pedra e caminhos. onde o escritor tocava com as palavras, uma nova realidade logo surgia, disso não tenho a mais pequena dúvida. o aquário da grande sala de jantar do hotel aparece espelhado em tantas obras literárias, artísticas, cinematográficas e etc que passa a lugar-comum actual. a sala ela própria mudou de nome para Sale Marcel Proust.
"Et le soir ils ne dînaient pas à l'hôtel où, les sources électriques faisant sourdre à flots la lumière dans la grande salle à manger, celle-ci devenait comme un immense et merveilleux aquarium devant la paroi de verre duquel la population ouvrière de Balbec, les pêcheurs et aussi les familles de petits bourgeois, invisibles dans l'ombre, s'écrasaient au vitrage pour apercevoir, lentement balancée dans des remous d'or, la vie luxueuse de ces gens, aussi extraordinaire pour les pauvres que celle de poissons et de mollusques étranges (une grande question sociale, de savoir si la paroi de verre protégera toujours le festin des bêtes merveilleuses et si les gens obscurs qui regardent avidement dans la nuit ne viendront pas les cueillir dans leur aquarium et les manger)."
o aquário americano: a diferença diz tudo.
(quase apetece sussurrar... Tadzio.. Tadzio)
Publicado por
Ana V.
às
10:23 AM
0
comentários
Thursday, February 26, 2015
viagens de comboio
enquanto me ponho a hipótese de nas idas a norte optar pela viagem de comboio (o mesmo que colheu a vida e os corpos de dois jovens polícias), leio a do jovem Marcel asmático para Balbec e alinho-a a outras: a de Karenina com o livro no colo, a entrada de Gustav em Veneza, a das crianças alemãs de Sebald, os pastores de Sepúlveda no Patagonia Express.
Publicado por
Ana V.
às
9:33 AM
0
comentários
TAGS Luis Sepúlveda, Marcel Proust, Stuff, Thomas Mann, Tolstoi, W. G. Sebald
Friday, February 20, 2015
a vida dos objectos
também a propósito de um livro que "saíu" há pouco tempo em português: a história do mundo em cem objectos e que me fez por alguma razão pensar que esse livro não estaria completo sem o papelinho que vinha com as pastilhas Gorila. hilariante, a passagem em que o narrador conta como deu os sofás e outros móveis da sua tua-avó Léonie à casa de meninas que frequenta mais tarde e o arrependimento que sente de cada vez que olha para eles e imagina que através dos seus olhos também a sua tia pode fazer ideia do que ele fez com a mobília.
a mobília é parte viva das histórias, no Tempo Perdido, como a banqueta de Swann, testemunha de uma imaginada inimizade e testemunha mais tarde de um apreço. andando para a frente e para trás só podia pensar na Relíquia e em dona Maria do Patrocínio. noutro registo e apenas porque reli a história há pouco tempo, os objectos do homem rico na Fada Oriana.
ainda sobre a vida dos objectos: o absolutamente genial altar portátil em exibição no Museu de Marinha. o armário, um altar em madeira que se abre e fecha com o santo, e que era levado nas naus para que se pudessem celebrar missas por esse mundo fora.
(o gozo que me deu explicar aos miúdos que era uma portable church)
Publicado por
Ana V.
às
12:52 PM
0
comentários
TAGS Eça de Queirós, kiddos, Lágrimas do teu sal, Marcel Proust, Sophia
Wednesday, February 18, 2015
knowledge management
pelo que vejo nas procuras, o km foi um penacho de pouca dura e esmoreceu há quatro anos atrás. uma ou outra universidade seguiram em frente mas escusadamente, julgo, e por aqui vejo a dificuldade em estruturar curricula numa sociedade em alteração tão rápida. onde está a moda e onde começa a realidade, a distinção é difícil para "nós", que nascemos fora deste novo mundo, mas fútil para quem nasceu nele e que já vê tudo como fugaz. arrumo o KM no meu esquema (percebendo que foi um clash entre os TI e os gestores, entre a lógica fechada e limitada do TI e a imaginação instintiva ou por vezes a pobreza de espírito dos gestores, sistema vs. caos) - entre a qualidade e a logística e aproveito a boa ideia de fluxos de informação tratados como logística. (querer incluir a criatividade num esquema, que ideia peregrina, mas querer incluir a formação num esquema de informação, tão lógico que nem poderia ser de outra maneira).
é adequado: enquanto Proust escreve o tempo perdido, Portugal faz a sua revolução republicana. existiam genes em 1910? (1940!) se não existiam nos manuais, existiam bem na cabeça do escritor que sobre eles já sabia tudo, dirigindo o olhar para a rua e para a pintura. poderosíssimo gaze. queria ver fazerem KM com isto... tão longe que Proust está do alcance dos sistematizadores.
Publicado por
Ana V.
às
8:39 AM
0
comentários
TAGS Marcel Proust, net, Stuff
Tuesday, February 17, 2015
pop de revista
enquanto alguns funcionários públicos trabalhos, alguns assalariados que não têm hipótese, ou alguns comerciantes a sobreviver, esta terça é dia das famílias que se reúnem nos cafés ou almoçam juntas e dão uma volta à tarde, a aproveitar o sol e apesar da ventania. as idosas vestem os casacos de sair e são acompanhadas ao carro por netos de jeans e sweat que lhes abrem a porta. deve-me ter calhado em sina servir de tradutora entre dois séculos para não falar de dois milénios, um lugar de privilégio. diverte-me e entristece-me ver o que se fazia a uma criança com asma no início de 1900 na capital sol da europa: entre doses cavalares de conhaque no início das crises às expurgas à base de leite, passar fome para "limpar" o fígado e os rins e carregar no leite, nada mais, durante uma semana. não vou ter a alegria de ver destruídos os corticosteróides, mas que gostava, gostava.
aquilo a que alguém da minha idade chamou pop de revista (também há quem negue o aquecimento global): digital revolution; information age. não sei se isto está nos livros de história portugueses, tenho curiosidade em saber. nos americanos sei que está.
for children, here.
a whole lot ot studies, here.
literacy and technology, here.
interessantíssimo, o militar na era da informação, aqui.
km, knowledge management, here.
ohmy, KM, where have you been all my life?
Davenport (1994) offered the still widely quoted definition:
"Knowledge management is the process of capturing, distributing, and effectively using knowledge."
A few years later, the Gartner Group created another second definition of KM, which is perhaps the most frequently cited one (Duhon, 1998):
"Knowledge management is a discipline that promotes an integrated approach to identifying, capturing, evaluating, retrieving, and sharing all of an enterprise's information assets. These assets may include databases, documents, policies, procedures, and previously un-captured expertise and experience in individual workers."
from here. i wonder if there's some online free stuff going on anywhere.
hmm. ahah so cool, so true.
Publicado por
Ana V.
às
2:18 PM
0
comentários
TAGS Marcel Proust, net, Stuff
Sunday, February 15, 2015
literatura
o antigo diplomata encontra a criança melancólica. só posso agradecer a Tamen pela transparência.
"Não me ofereceu absolutamente nada acerca de La Revue de Deux Mondes, mas colocou-me algumas questões acerca do que haviam sido a minha vida e os meus estudos, acerca dos meus gostos, dos quais pela primeira vez ouvi falar como se pudesse ser sensato segui-los, quando até então sempre julgara ser um dever contrariá-los. Uma vez que eles me inclinavam para o lado da literatura, ele não me desviou desse caminho; pelo contrário, falou-me dela com deferência, como se fosse uma pessoa venerável e encantadora de cujo círculo escolhido, em Roma ou em Dresden, guardou a melhor das recordações e com quem infelizmente, em consequência das exigências da vida, tão poucas vezes se encontra. Parece invejar-me, sorrindo com um ar quase descarado, os bons momentos que ela me faria passar, a mim, que era mais feliz e livre que ele. Mas até os termos de que se servia me mostravam a Literatura como coisa muito diferente da imagem que eu dela concebera em Combray; e compreendi que tivera duplamente razão ao renunciar a ela. Até aqui apenas havia verificado que não tinha o dom de escrever; agora o senhor de Norpois tirava-me até tal desejo. Quis explicar-lhe o que tinha sonhado; a tremer de emoção, queria que todas as minhas palavras fossem escrupulosamente o equivalente mais sincero possível do que sentira e nunca tentara formular para mim mesmo; o mesmo é dizer que as minhas palavras não tiveram qualquer clareza. Talvez por hábito profissional, talvez por virtude da calma adquirida por qualquer homem importante a quem se solicita conselho e que, sabendo que terá na mão o domínio da conversa, deixa que o interlocutor se agite, se esforce, sofra à vontade, e talvez também para sublinhar as características da sua cabeça (grega, segundo ele, apesar das suíças enormes), o senhor de Norpois, enquanto lhe expunham qualquer coisa, mantinha uma imobilidade do rosto tão absoluta como se tivéssemos falado diante de um busto antigo - e surdo - numa gliptoteca. De repente, caído como o martelo do leiloeiro, ou como um oráculo de Delfos, a voz do embaixador que nos respondia impressionava tanto mais quanto na sua face nada nos fizera suspeitar do género de impressão que nele tínhamos produzido nem da opinião que ia emitir."
Proust, no vol 2 do Temps Perdu
Publicado por
Ana V.
às
2:35 PM
0
comentários
TAGS Marcel Proust
palimpsesto
dois a dois, o segundo jogo, o segundo volume. leio o tempo perdido em golos, ou depressa distraída da história e de tudo o resto, ou em atenção total com dobras em todas as páginas para me lembrar de onde estão passagens memoráveis e em substituição dos sublinhados e notas a lápis. trinta anos depois quando volto aos livros antigos, releio as notas e continuam a ser hoje exactamente o que pensaria sobre aquelas passagens, excluindo as hipotéticas relações com outras obras que na altura não existiam ou eu não tinha lido (uma parte da Françoise de Proust, apenas uma parte, são as mulheres de Cardoso Pires). desisti então das notas como desisti da ideia de passar os livros e os guardar para alguém que não seja eu. na idade do excesso de livros, em que ninguém os quer nem as bibliotecas, vai existir também a falta de livros em que já ninguém os tem. sei lá o que digo.
levei a passear uma mulher de alguma idade, como simpatia, por locais do coração. não sei se agradeceu porque só me lembro de ter dito que aquilo eram tudo coisas velhas a precisar de reparação. se me tivesse insultado directamente não teria sido pior.
outros dois: de Proust tenho apenas sete para ler, mas de Pamuk virão aí em tradução mais dois, um longo e outro que o autor termina agora, curto.
(For now, Pamuk is focusing on putting the finishing touches to a new novel which he says will be a surprise for some readers.In typical Pamuk style, it tells the story of a well digger in Istanbul and his apprentice and is “allegorical.”But this time there is a difference.“The whole problem here is that this time I want to write a short novel, and break the heart of my traditional readers who always tell me to write a long one,” he said.") imagino que o número de notícias recentes tenham origem nalguma entrevista que tenha dado na deslocação ao Cairo.
diz ele que Istanbul (prefiro vê-la com n, com m a palavra parece-me gorda) é um palimpsesto da civilização. visto que palimpsesto é: Palimpsesto (do grego antigo παλίμψηστος, transl. "palímpsêstos", "aquilo que se raspa para escrever de novo": πάλιν, "de novo" e ψάω, "arranhar, raspar") designa um pergaminho ou papiro cujo texto foi eliminado para permitir a reutilização. Tal prática foi adotada na Idade Média, sobretudo entre os séculos VII e XII, devido ao elevado custo do pergaminho. A eliminação do texto era feita através de lavagem ou, mais tarde, de raspagem com pedra-pomes. (nunca mais me esqueço da pedra-pomes neste sentido, quando tirar a própria pele vou relembrar que poderia estar a retirar uma estrofe ou um parágrafo), também a cidade é reescrita, partes dela são apagadas, outras afundam em camadas de tempo, aquilo precisamente que me fez desejar ser dali e estar ali para todo o meu sempre. o meu sempre, porém, está naquelas casas velhas a precisar de reparação, os reparadores no lugar da pedra-pomes.
o meu sótão, de onde me esticava para cima das telhas quentes para ver o castelo que dali parecia maior. o privilégio que era ir lá, acrescido pelo secretismo da entrada, dissimulada nos tectos da casa. nas casas velhas de Sintra, os sótãos pertenciam ao passado e às crianças.
Publicado por
Ana V.
às
1:24 PM
0
comentários
TAGS is14, Marcel Proust, memória, Orhan Pamuk, Stuff
Saturday, February 14, 2015
sinais
havia um programa com esse nome. quando se mergulha nos sinais, o significado é muito e inunda-nos de todos os lados. Obama a discursar em Stanstead para uma plateia de nerd internéticos, que não vemos mas que assim são descritos pelo presidente (um puppet emissor de discursos) sobre a necessidade do estado e consequentemente do estado militar trabalhar em conjunto com a sociedade civil e com as empresas na guerra cibernética em curso, a bem da segurança das famílias e das nossas crianças e para defender o nosso valor mais valioso, a liberdade. esta ideia recente da política norte-americana de associar repetidamente liberdade à intromissão do militar na vida civil é um reflexo do país em que se tornaram. repetindo em loop o discurso e questionando frase a frase, desvenda-se a estrutura da sua construção e a estrutura das ideias que suportam e geram o discurso.
na fnac, onde procurámos um tripé, e na bertrand, não havia Marcel Proust, e muito menos o número dois que me disseram estar esgotado e à espera de reedição. o livro idiota em que se incita a que os homens batam nas mulheres e estas gostem tem centenas de exemplares nas montras e nas prateleiras várias dentro das lojas.
nem tudo é mau. number two. também é verdade que existe o número ii na Galileu, onde vou daqui a meia hora e talvez os sete números desta obra prima.
Publicado por
Ana V.
às
10:43 AM
0
comentários
TAGS bookstores, kiddos, Marcel Proust, Negócios Estrangeiros, net
Friday, February 13, 2015
o que está numa palavra atirada pelo ar, descrevendo um arco
"The name Gilberte passed close by me, evoking all the more forcibly her whom it labelled in that it did not merely refer to her, as one speaks of a man in his absence, but was directly addressed to her; it passed thus close by me, in action, so to speak, with a force that increased with the curve of its trajectory and as it drew near to its target; — carrying in its wake, I could feel, the knowledge, the impression of her to whom it was addressed that belonged not to me but to the friend who called to her, everything that, while she uttered the words, she more or less vividly reviewed, possessed in her memory, of their daily intimacy, of the visits that they paid to each other, of that unknown existence which was all the more inaccessible, all the more painful to me from being, conversely, so familiar, so tractable to this happy girl who let her message brush past me without my being able to penetrate its surface, who flung it on the air with a light-hearted cry: letting float in the atmosphere the delicious attar which that message had distilled, by touching them with precision, from certain invisible points in Mlle. Swann’s life, from the evening to come, as it would be, after dinner, at her home, — forming, on its celestial passage through the midst of the children and their nursemaids, a little cloud, exquisitely coloured, like the cloud that, curling over one of Poussin’s gardens, reflects minutely, like a cloud in the opera, teeming with chariots and horses, some apparition of the life of the gods; casting, finally, on that ragged grass, at the spot on which she stood (at once a scrap of withered lawn and a moment in the afternoon of the fair player, who continued to beat up and catch her shuttlecock until a governess, with a blue feather in her hat, had called her away) a marvellous little band of light, of the colour of heliotrope, spread over the lawn like a carpet on which I could not tire of treading to and fro with lingering feet, nostalgic and profane, while Françoise shouted: “Come on, button up your coat, look, and let’s get away!” and I remarked for the first time how common her speech was, and that she had, alas, no blue feather in her hat."
Proust
e congelando de puro espanto quem l/vê.
Publicado por
Ana V.
às
12:40 AM
0
comentários
TAGS Marcel Proust
Thursday, February 12, 2015
daqui a umas horas
um entre muitos:
Vergílio Ferreira, não sei onde, daqui.
Sintra é o mais belo adeus da Europa quando enfim encontra o mar. Camões o soube quando os seus navegadores a fixaram como a última memória da terra, antes de não verem mais que “mar e céu”. E no entanto, ou por isso, o espaço que ela nos abre não é o da infinitude mas o do que a limita a um envolvimento de repouso. Alguém a trouxe de um paraíso perdido ou de uma ilha dos amores para uma serenidade de amar. Ela é assim o refúgio de nós próprios e de todo o excesso que nos agride ou ameaça. O sagrado dos seus bosques de frescura e de sombra não se nos interioriza como o espaço de uma catedral, mas exterioriza-se-nos em acalmia de uma mitologia pagã. As ninfas que habitaram estes bosques, deixaram, ao abandoná-los, a memória física de um prazer sensível. Sintra é o único local do país em que a História se fez jardim. Porque toda a sua legenda converge para aí e os seus próprios monumentos falam menos do passado do que de um eterno presente de verdura. E a memória do que foi mesmo em tragédia desvanece-se no ar ou reverdece numa hera de um muro antigo. Em Sintra não se morre - passa-se vivo para o outro lado. Porque a morte é impossível no vigor da beleza. E a memória do que passou fica nela para colaborar. Eu disse que as ninfas abandonaram estes bosques. Mas não é de todo improvável que voltemos a encontrá-las. Como todas as divindades pagãs que nasceram para perdurarem no eterno da sua juventude. O aviso de Dante para abandonarmos as esperanças às portas do Inferno, inverteria aqui o sentido para se entrar no Paraíso. E não precisaríamos de uma Beatriz para no-lo iluminar, porque estaria invisível no visível de outra beleza. O que deixamos à porta é o excesso do que nos oprime e convulsiona e incendeia as noites de insónia. O que deixamos à poria é justamente o Inferno. Possível é assim que a olhos já cristianizados, nós encontremos neste bosque deleitoso medievo os seus anjos mensageiros, educadores da Justiça, Fortaleza e outras virtudes que lá fora nos faltam. «Porque a vida do ermo, solitária e apartada, é vida angelical, mas a vida da cidade é ruído do interno» Não será possível sabê-lo no fresco repouso da sua sombra?
Porque é no silêncio repousado que a meditação tem melhor voz de se ouvir. Mas o inferno insiste em voltar sob a forma do trânsito e do ruído. E com eles a poluição dos ares deste verdadeiro locus amoenus de que variamente nos fala a literatura medieval latina. Até quando?
A vilegiatura de Sintra manteve-se na suspensão de tudo quanto a perturbava, mesmo da mundanização imposta das praias. Porque a praia é uma invenção dos começos do século passado. A imagem dessa vilegiatura era a de um senhor composto num vestuário de rigor como o era das suas damas. Porque a frescura dos bosques era bastante para a canícula não ter razão e a reserva do corpo se cumprir.
Mas a praia desautorizou essa compostura e severidade. E Sintra, renovada no paganismo, é hoje um compromisso entre as ninfas discretas da solidão desses bosques e as nereidas da nudez solar. Não é possível pedir-se a prevalência de umas sobre as outras. Mas é de pedir ou desejar que a cidade a não invada com o desembaraço expeditivo de quando expulsa dela o paraíso para o inferno entrar. Que esse inferno passe de largo com a perda da esperança, para que ela e o mais aqui continuem. Porque, como numa mesquita ou em certas salas reservadas, há que deixar à porta o que de impureza arrastamos com os pés. Ou como num atelier, como Picasso dizia, é necessário deixar á entrada tudo o que seja perturbação para a arte se cumprir. Pagã ou cristã ou mesmo moura, Sintra tem o sagrado do outro lado da vida imediata e utilitária.
A convulsão apazigua-se, o ruído afoga-se no silêncio da floresta, o tempo abranda-se numa lentidão genesíaca. Um banco e uma sombra tranquiliza-nos do nosso excesso e é possível então ouvir em nós a voz que outras vozes ensurdeceram. Amar o seu silêncio, a frescura inicial da alma, a História e monumentos feitos elementos da Natureza. Amar a legenda sempre recente, a memória breve, a iniciação à alegria que não cansa.»
Louvar Sintra. Amar Sintra.
Louvar Amar
Publicado por
Ana V.
às
3:22 PM
0
comentários
TAGS hipsta, Marcel Proust, Stuff, Vergílio Ferreira
Sunday, February 1, 2015
jardins
"Mon volume est un tableau. Il est vrai qu'un tableau est forcément vu, si grand qu'il soit, tandis qu'un livre ne se lit pas de la même manière” (My volume is a picture. It's true that a picture is necessarily seen, however large it is, whereas a book isn't read in the same way.)
Proust numa carta a Jean Cocteau, e referido por Pamuk em The Naïve and The Sentimental Novelist.
por estranho que possa parecer os meus melhores professores foram Feijó e Pamuk. com eles aprendi tudo. o melhor practitioner, esse é Tolstoi (para mim, como tudo). há Proust e depois há o resto do mundo. parece-me tão incompleto falar de ekphrasis recorrendo só à literatura anglófila. parece-me que o francês foi sempre mais visual, mas que sei eu.
eu sabia que havia qualquer coisa diferente e especial nas madalenas. agora estou certa: madalenas e memória. (os cientistas são divertidos nos seus permanentes cortes daquilo que é inteiro para provarem uma certa 'ideia': fizeram-se experiências para ver se o odor era mais facilmente retido pela memória de que a visão e a teoria falhou; esquecem-se cheiros tão facilmente como se esquecem imagens. imagino que as preocupações psicológicas sejam patrocinadas por interesses publicitários sempre na procura de novos meios para chegar à consciência/inconsciência do pobre consumidor. usar uma teoria para vender, a triste realidade. separar aquilo que é uno, o trabalho da análise e da procura da verdade. talvez não exista verdade e talvez separar não seja o que é preciso para encontrar o que se deseja.) a literatura sabe mais sobre ser humano, sempre soube.
Publicado por
Ana V.
às
7:01 PM
0
comentários
TAGS Cocteau, lit e arte, Marcel Proust, memória, Orhan Pamuk
Friday, January 30, 2015
Éden
"A sebe deixava ver no interior do parque uma alameda orlada de jasmins, amores-perfeitos e verbenas, no meio das quais os goivos abriam a sua bolsa fresca, um rosado odorífero (...)"
M. Proust
sempre a lembrar-me de alguma coisa, aqui com uma donzela. absolutamente a comparar com as deescrições de parques e florestas de D. H. Lawrence. e com o jardim do éden, claro. é tão bonita e longínqua a história dos jardins.
Publicado por
Ana V.
às
3:33 PM
0
comentários
TAGS Marcel Proust
Wednesday, January 28, 2015
Françoise's kitchen
no museu Marcel Proust em Illiers.
"Ravaged by bronchitis and pneumonia, Marcel Proust spent the last night of his life dictating manuscript changes for a section of his famous novel Remembrance of Things Past."
(ohmy)
Publicado por
Ana V.
às
11:25 PM
0
comentários
TAGS Marcel Proust