light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, October 7, 2008

antes rainha por um dia do que princesa toda a vida



Vi finalmente o filme Into the Wild realizado ao fim de 15 anos de espera pelo actor Sean Penn. Não vou entrar em pormenor pela história adentro, afinal queria ver o filme por duas razões: primeiro por ser do Sean Penn, uma pessoa que em geral admiro, segundo pelas grandes paisagens americanas, que me fazem falta de vez em quando. Acabei por ter mais curiosidade depois de ler um post do contra, bem escrito pelo meu amigo blue, e com o qual eu nunca podia concordar. Ou não gostasse eu da Maria Yudina...


As paisagens foram boas mas não tantas como as que eu esperava, talvez falta de orçamento para os vôos rasantes e outros meios. O realizador mostrou-se como eu pensava e como é, o filme é a sua cara e o seu modo de ver. Já a parte moralizante do filme tem mais que se lhe diga. Para começar, esta viagem não foi ecologicamente idealista, como é a de tantos heróis de hoje (Rick Valois !), mas uma viagem de procura de uma verdade própria, uma fuga à mentira e, como tantas, milhentas outras, uma viagem de iniciação. Estando o mundo das histórias tão absolutamente recheado de viagens de iniciação, é sempre um desafio ver mais outra e especialmente esta por se basear numa história real e pelo seu desfecho trágico e indesejado. As paisagens humanas acabaram por ser, para mim, mais interessantes do que as naturais, e era assim que se queria. À procura de uma família verdadeira, que nem sempre tem a ver com a tal biológica, todos os personagens ultrapassavam a futilidade em muito, em história e em mágoas, gente com desejo de contacto. Os cenários humanos muito realistas, a fotografia sensível de um povo mal visto e mal julgado.

E depois há a questão moral ou a questão da escolha, entre seguir o que se deseja em liberdade, sejam quais forem as consequências e entre ficar conforme, no mesmo sítio, no que se espera que aconteça, no que é suposto fazer. Não creio que nada seja feito ou conquistado seguindo a segunda via, mas esta é a minha visão das coisas. E atrás dos fazedores, inventores, criadores, lutadores, aqueles que correm com verdadeira paixão, terá sempre de haver o batalhão dos que seguem, os que continuam, os que copiam, os que repetem infinitamente sem desvio. Assim é o mundo.

Um filme a ver.

6 comments:

Anonymous said...

O que é comun a este ,ou ao dos usros ,ou a Ric valois é o amor desmedido pela natureza , procurar nela a liberdade ,proteger as suas criaturas ,take the road less trav.......,,,,,,, afinal não é só um slogan de trail running shoes ,ou de hiking boots :))
e quem tem uma capa de saco cama aluminizada mais vale dar-lhe uso
.Gosto do Ric Valois ,é o gajo que tem o projecto mais consistente ,e a cabeça mais assente nos ombros .de resto admiro todas estas pessoas ,até porque cá não se pode fazer aquilo
cá a natureza é suave :))

Ana V. said...

Cá a natureza é suave e carinhosa, e a cada cinco metros há uma família. Não há espaço para a solidão. Talvez por isso fossemos sempre obrigados a sair para longe.

Anonymous said...

de salientar o facto de este ser o road movie mais positivo de que eu me lembro .se fores a ver .....

Ana V. said...

mas a mais negativa (falhada) viagem de iniciação.

jorge vicente said...

todas as viagens de iniciação são bem sucedidas. ainda que...

bluewater68 said...

:)))) Eu assim "Comentar o Into the Wild"? mas onde?
We can be Heroes, just for one day?
Não vou por aqui a minha opinião, pois já sabes qual é, mas adianto um dado novo.
Se eu tivesse caçado aquele Caribu (ou Alce?), tinha feito um enorme churrasco e tinha-o comido de um só vez. Já que era para ficar por ali, pelo menos que fosse de barriga cheia e em grande estilo, ao género do "Grande bouffe, La" (http://www.imdb.com/title/tt0070130/)
E mais uma nota. Os Vagamundos (SOL) deixaram tudo para trás. Estiveram às portas da China e não os deixaram entrar. Agora, estão a caminho de Moçambique. Não queimaram dinheiro, não abandonaram o Jeep, não deixaram as famílias sem saberem deles e a sofrer por isso.
«Saímos para investigar teatro no Vietname, fizemos voluntariado em África dirigindo o projecto de uma ONG britânica, gerimos um hotel na Tanzânia.
Quem disse que a vida é previsível?
Uma noite, inebriados de paixão decidimos
- Vamos abandonar tudo e partir, sem regresso.
- Sim, apanhamos um avião e vamos!
- Hum... e se fôssemos antes de jipe?
Ficamos uns dias só assim «um pé na doideira de partir, outro na loucura de ficar».
Carregamos o jipe e ao anoitecer atravessamos o Tejo. Esta estrada que tomamos vai dar ao Vietname.
É estranho, não é ? Mas é verdade. Há uma estrada que liga a minha Casa ao Mundo, basta ousar percorrê-la.
Voltaremos um dia?
Vamos quase sem despedidas, não sabíamos das saudades...
Por isso agora, e por agora, adeus.
Adeus Tejo, adeus bicas na Brasileira, adeus palcos, adeus compras no Chiado, adeus bifes na Estrela, adeus cabeleireiro na Av. da Liberdade, adeus espectáculos, adeus esplanadas, adeus mamã!
»
Não são ingénuos ou cobardes, e para mim, têm sido Reis em toda a viagem.
Beijinhos

 
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