não adoro ficção científica e é preciso que esteja bem urdida para a ler: ou a coisa já é impossivelmente longe da realidade e aí vive-se bem no outro mundo, ou se está neste e de repente a realidade parte-se e a coisa começa a resvalar. é do resvalo que não gosto por aí além. o primeiro conto de Nada do Outro Mundo de Molina estava perfeitíssimo em todos os detalhes até ao momento glorioso em que o personagem deixa ficar o gira-discos na casa tomada do amigo com o tchaikovsky invasor. o depois disso era escusado e vou tentar esquecer as três últimas folhas da história: parece que me arrastaram para o cinema e voltei aos gremlins, aos mortos-vivos e a outras cenas tristes da indústria americana. o choque foi tanto maior quando o que eu estava a gostar da escrita e do modo de ver. por vezes, demasiado perto, demasiado vizinho.
(na nota anterior reparo que não tinha nemésio em tag. que falta. nemésio-brandão, uma dupla que gosto de ler. gostaria de acompanhar a sua viagem conjunta à Madeira. lê-los e magicar sobre a natureza da língua portuguesa, o seu uso, o 'turismo de escritor' que veio a dar em "literatura de viagens", a natureza da viagem e a sua passagem a texto - a observação, observar o quê, ou como. quem vai em viagem e porque razão. a noção antiga de pitoresco. a noção antiga - e repescada - de tradicional, de português. a língua é tão reveladora e tão funda como o oceano, navega-se nela para descobrir ou para voltar no tempo ou para criar de novo como Gogol a cada curva da linha a criar uma personagem inesperada. não é o o dedo oponível, mas são as palavras o que nos perde.
light gazing, ışığa bakmak
Sunday, July 6, 2014
'nada do outro mundo'
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Ana V.
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5:13 PM
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TAGS Molina
Sunday, June 29, 2014
dúvida
metódica: com cinco dias para ler, que livro escolher.
[i think i have it: chandler, molina, kadare]
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Ana V.
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12:35 AM
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Saturday, February 8, 2014
Saturday, October 12, 2013
Saturday, October 5, 2013
Molina (novel and reality)
"Usando personajes y fragmentos de historias de la realidad igual que Picasso usaba trozos de cartón o tornillos o tubos recogidos del suelo, la novela reivindica su naturaleza bastarda y de aluvión, celebra su empeño no tanto de retratar la vida como de convertirse en una parte de ella. Si el historiador narra atado escrupulosamente a los hechos y el biógrafo, como dice Michael Scammell, es un novelista bajo juramento, el novelista pocas veces disfruta más que cuando finge seriedad de historiador o cronista y comete perjurio, como el dibujante que se aprovecha de sus facultades para falsificar documentos." (daqui)
de certo modo um escritor sereno, tal como Tabucchi.
ainda do mesmo artigo:
"Las mejores novelas ensanchan la realidad: le añaden pormenores, provincias enteras que en seguida se nos vuelven imprescindibles. Cervantes lo sabía, y por eso hizo que cuando don Quijote llega en su vagabundeo a Cataluña se encuentre con un bandido tan real como Roque Guinart y vea desde la playa de Barcelona una escaramuza con barcos piratas berberiscos que había sido un hecho notorio para sus contemporáneos. Max Aub quiso que su Jusep Torres Campalans se cruzara con Picasso no sólo en las páginas de una novela que fingía ser una biografía sino en alguna de las fotos trucadas que la ilustraban. Daniel Defoe publicó Robinson Crusoe como la historia verdadera de un náufrago, y a Francisco Rico le gusta puntualizar que el autor del Lazarillo no es anónimo, sino apócrifo, porque la historia viene firmada por el propio Lázaro de Tormes."
claro que seria imprescindível acrescentar Pamuk e o seu museu dos objectos do romance - cada um deles equivale a uma sensação, cada sensação equivale a um momento do tempo aristotélico, essa a matemática do autor. um objecto, uma sensação.
para seguir: escrito en un instante, o blog dos leitores de Molina.
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Ana V.
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9:13 AM
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TAGS Molina, Orhan Pamuk, Tabucchi
Saturday, September 7, 2013
esponsorizados
via l., de vez em quando há quem não pense que isto é normal.
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Ana V.
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11:03 AM
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