mas é o meu livro, tem páginas, e sigo a ordem que me dá na gana. posso até ler esta página 112 vinte e cinco vezes e saltar a 113 sem razão nenhuma. às vezes antipatiza-se com um título. posso discordar da primeira linha de um modo irreconciliável (como as 'relações' quebradas) e sofre o capítulo todo. (e sim, gosto de capitalizar as palavras dos títulos, à inglesa, só porque sim. raramente type-type à portuguesa que tem 'cabeça de casal'. a mais das vezes é pelo modo democrático, nivelar por baixo, todas na igualdade de oportunidades que só a minúscula pode oferecer)
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Conservação de Recordações
Julio Cortázar em Histórias de Cronópios e de Famas
Para guardar as recordações, vão os famas embalsamá-las do seguinte modo: assim que a recordação é fixada em todos os seus pormenores, envolvem-na dos pés à cabeça num lençol negro e colocam-na contra a parede da sala, com um cartão que diz: «Excursão a Quilmes» ou: «Frank Sinatra».
Os cronópios, ao invés, esses seres desordenados e tíbios, deixam as recordações espalhadas pela casa, entre alegres gritos, e andam no meio delas e quando uma passa a correr, acariciam-na suavemente e dizem: «Cuidado, não caias» ou ainda: «Olha os degraus». É por isso que as casas dos famas são arranjadas e silenciosas, enquanto nas dos cronópios há grande barulheira e portas que batem. Os vizinhos estão sempre a queixar-se dos cronópios, e os famas abanam compulsivamente a cabeça e vêem se as etiquetas estão todas nos seus lugares.
1 comment:
é um verdadeiro prazer visitar seu blog, parabéns
Saudações de Reus Catalunya
obrigado
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