depois de muitas voltas pela casa virtual à procura do anterior que vi, Still Life, cheguei à conclusão que vi mas não escrevi. assim perco, por defeito de memória, a primeira impressão e fica só o que já passou ao filtro da memória (poderoso filtro o meu, deixa apenas areias, uns grãos).
afinal o mesmo 'tema', como dizia o jornal. o tema de demolição-demolidores, políticas que transformam o destino de um enorme número de pessoas, exílio e total destruição do natural. a cor que condiz é o cinzento. a cor dos sonhos individuais contrasta com a cor ambiente: azuis fortes, laranjas, amarelos - pontos aqui e ali no meio tom geral da imagem. esta impressão de dot dot no nevoeiro faz-me sempre feliz, não sei explicar porquê.
a história da cidade 24 (abreviada de fábrica 420, sempre a tentação numérica) é documental e serve fins de memória. em Still Life havia a chamada acção, ou ficção. aqui é tudo suposto ser verdadeiro. se não estivesse de partida ia bisbilhotar: cada personagem é real ou fictícia, como em Shirin? talvez para depois. o documental lembrou-me muito as Ruínas de Manual Mozos se ele lhes tivesse dado gente e não só narrativas. a Mozos faltava ainda a preocupação social que atormenta Zhang Ke Jia. só a tormenta explica o mesmo tema exacto.
a memória na China é uma coisa peculiar de tantas vezes que já se tentou apagá-la. mas ela vive - como quer o realizador - nos momentos que causam lágrimas em cada uma pessoas, gotas num extenso mar. hoje a memória apaga-se de novo (demolição). podia chamar-se revolução cultural dois. um ponto de vista que me vai deixar a ruminar durante algum tempo.
antes do início do filme, impaciente, pensei: vamos lá para a China, take off. fui e voltei, mas ainda penso que o grande continente tem mais cor do que esta película.
"Through this process, do you feel that many memories are…
'... lost. Memories were lost. That’s why when I read this news, I thought to myself: Wow, in the end, even memories had to be sacrificed. When you visit an old building, at least you can still trace your past memories. But when [a building] is torn to the ground like this, nothing is left behind.'"
(daqui)
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