light gazing, ışığa bakmak

Sunday, May 16, 2010

Madeo, a Mãe de Bong Joon-ho

Não conhecia o realizador e estava a precisar de mudar de assunto, uma narrativa de um lugar distante, uma história, outros sítios e ver de outro modo. Madeo foi uma boa opção e deixou atrás de si um rastro de várias questões não só de imagens-cores, de sons, de histórias, culturas, de escolhas do ponto de vista, caracterização das personagens que habitam no bairro contido e sui generis do filme, questões de ser mulher e ser mãe -tão fora das ideias normais que nem faz mal voltar ao tema, moralidade, obsessão, dissolução da sociedade diz ele. e o fascínio por uma mulher belíssima (Kim Hye-ja) que rouba a câmara e se imprime na memória.




pensando e repensando a surpresa, ficou-me a sensação de ardil, o ardiloso Bong Joon-ho que manipula o seu espectador como marioneta. uma longa introdução em que estamos num comum thriller que me fez lembrar Insomnia, sei lá porquê, com o extra de uma mãe zelosa que faz tudo o que deve ser feito para proteger o filho deficiente. mas a cena inicial era um sinal do engano: espera-se que a mãe corte o dedo, não corta, afinal o acidente foi sofrido pelo filho, sangue, que afinal não era dele, mas dela. engano atrás de engano e o olhar de quem vê preso nesse isco. a meio caminho uma palavra muda tudo e volta a arrastar quem vê pelo inconfortável caminho do apanhado, saber o que vai suceder a seguir e a sensação de afinal não se conhecer quem pensava que se conhecia. não quero revelar histórias porque é nessa revelação que se baseia esta Mãe (porquê Mother?).

e assim localizamos-situamos o bairro e uma história bizarra de culpas e de comportamentos sociais em que o desvio é a regra (quem somos?) -entre a cena inicial de total abandono e a cena final, uma espécie de como-sobreviver-em-dez-lições. perder tudo e mesmo assim continuar num beckettiano sempre em frente, a condição humana pós-Sartre. e se calhar invento.

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