light gazing, ışığa bakmak
Sunday, February 19, 2012
Le Havre, Aki Kaurismäki --os europeus (beauty)
há tantas razões por que gostei de Le Havre que dificilmente passo por todas. gostei, ainda para mais, no final de Almas Mortas, de Gogol, um livro que seca quase tudo em seu redor e que, normalmente, tornaria quase impossível ler ou ver fosse o que fosse depois dele. há aquele período de luto em que se deve deixar esmorecer o choque e deixar os sentidos regressar ao estado de letargia. gostei, sabendo que não falo a língua do cinema o suficiente para o ler.
o primeiro de uma trilogia sobre cidades portuárias da Europa, Le Havre deve ser seguido por dois portos europeus, na Alemanha e Espanha, imagino Hamburgo e Algeciras mas podem ser outros (será Vigo). o que à partida podia ser mais uma imagem de Gursky, acaba por ser precisamente o contrário: na cidade portuária, onde passam as grandes rotas mundiais, cidade que espelha o comércio, o mundo globalizado e a despersonalização, olha afinal para o particular, o único, pequeno, aparentemente insignificante que é, à maneira de um romantismo antigo, aquilo que importa. não é piegas, não se chora, não se tem pena de nada. a dignidade destas personagens é absolutamente delirante e fizeram-me lembrar 36 vues du Pic Saint Loup, não sei exactamente porquê.
e as imagens: provando que existe uma iconografia europeia, genuinamente nascida e criada neste continente feito de diferenças e da verdadeira diversidade (que parte dos políticos querem suprimir). aqui não há melting pot.
admirável- de chorar, a colecção de objectos com que somos presenteados durante duas horas. o vestido amarelo e as flores, as jarras, os aparelhos de telefonia e o gira-discos, as cadeiras, o bar da cidade que deve figurar em enorme parte da pintura do século dezanove. saiam, diz Claire de uma vez. fechem a porta.
Little Bob! pensei em Blue Velvet.
O momento em que se abre o contentor e em que se confrontam dois olhares, que se prolongam, é devastador.
referências para prolongar o prazer de Le Havre: Port of Shadows, o detective sai de Crime e Castigo, Arletty a actriz, Tati, Bresson, Howard Hawks, diz Aki Kaurismäki. --Pierre Étaix é o dr. Becker. ler kafka no hospital.
a panela sensual e colorida do campo de refugiados em Dunkerque (luscious)e a sinalética das ruas de Le Havre. (Normandia ou Bretagne?)
o delactor que insiste em pegar no telefone, colaboracionista, e todos os outros que resistem, suavemente, nas ruas da cidade.
"Aki Kaurismäki “drove the whole seafront from Genoa to Holland", deste artigo que gostei de ler.
@Janus.
há beleza num conto exemplar?
Publicado por Ana V. às 5:46 PM
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