Das algumas peças que vi, a que nunca esqueci foi Rockaby no Teatro S. Luís, temporada 90/91. As outras eram Breath e Krapp's Last Tapes. Beckett claro. Em cena Mário Viegas e Carmen Dolores. Mais histórico do que a grande maior parte dos nossos actos eleitorais, nunca mais desassociei "teatro" da imagem de Carmen Dolores na cadeira de baloiço.
Do programa agora retornado ao lar após quinze anos de exílio:
"Na peça Rockaby, Balançeada, a única figura em palco é uma velha mulher com um vestido de noite de renda preto, de gola alta. A sua única actividade é balouçar-se lentamente numa cadeira de balouço em madeira. Ela só diz a palavra "Mais" - mas, em cada vez, ela ponta a sua voz gravada em frases poéticas, para falar duma mulher (ela própria, ou, como mais tarde se sugere, sua mãe), que passou os seus dias à procura de "uma outra como ela", à procura até ter "tempo de acabar". Cada uma das quatro partes da peça, reduz as esperanças da mulher, ao mesmo tempo que se senta à sua janela, olhando para outras janelas, sempre à procura de uma outra como ela; depois finalmente, apenas uma outra janela como a dela. No fim, desce o estore, balouçando-se e esperando pela Morte, "baixar o estore e acabar / tempo de descer / a escada a pique / até abaixo / ela própria a outra / a outra viv'alma". Olhos fechados tendo desistido, ela balouça-se ritmicamente a par com as suas próprias palavras desesperadas: "dizendo à cadeira / para a embalar".
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