light gazing, ışığa bakmak

Thursday, March 10, 2011

serra

a vontade excessiva de acumular coisas, quase sempre sem sentido, por um capricho temporário que amanhã já se dissipou -faz-me alguma impressão. não tem relação directa com a Covilhã, onde regresso depois de sete anos, para encontrar uma cidade no sopé da serra rugosa de pedras, envolta em neblina e em nuvens que voam baixo rente aos muitos prédios que sobem a encosta. em algumas cidades a idade conta-se em anéis desde o centro antigo, tantas vezes ‘recuperado’, ou seja, reconstruído para se assemelhar mais à ideia que se tem de antigo, para ir ao encontro dos desejos e conceitos de medieval, ou gótico, ou rural. noutras, a antiguidade lê-se nos materiais de construção, de casa em casa, promiscuamente convivendo nas mesmas ruas, habitações, comércios e prédios devolutos, que é como quem diz ruínas, nos mesmos quarteirões irregulares. ver os locais como são, eis a dificuldade. as pessoas que se juntam na varanda do centro comercial para fumar, o chão feito de deck, as classes enérgicas no ginásio, as filas que transportam produtos brancos nos espaços comerciais, menos carne, os ciclistas e os que passam contando quilómetros e outra terra que já “viram”. os pilares da identidade comum são frágeis e quase irreais. só a língua vive. as uvas não têm grainha, assim mesmo, e não sei de onde vêm.

desta vez não foi, mas um dia será.

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