light gazing, ışığa bakmak

Sunday, March 17, 2013

deus meu, que mortandade (em Macau)


[o deus meu é influenciado pela cara do papa que se infiltra por todo o lado, perseguição sem igual. abro o youtube e lá está ele de braços abertos, google, filmes, tv, revistas, cartazes, é possível fugir ao homem? e temos agora -- comentadores de missas! eu sabia: era precisamente aquilo de que mais precisávamos nesta altura. disso e de ficar a conhecer as tias, vizinhas, irmãs e taxistas do papa. argh.]

A última vez que vi Macau precedido de Alvorada Vermelha (ou como fazer ficção a partir de índices documentais).

de certo modo, o filme, o primeiro, não está muito longe de Ruínas de Manuel Mozos, um mundo que se perde, os 'remains' de uma vida perdida na história, na infância, na memória. que seja ficção, bom... a alusão a Jane Mansfield e a ao filme de Sternberg não faz uma história; a cantora desaparecida tembém não, isto não é ficção. e no entanto, é uma maravilhosa viagem às imagens cativantes, estimulantes, fascinantes de Macau. os cães e gatos, as gaiolas, o tai chi, os jogos e o incrível mercado onde milhares de animais morrem todos os dias, as ruelas, a água e a atmosfera asfixiante das ruas, as janelas protegidas por grades, as crianças que saem da escola com uniforme, a calçada, a antiga porta de passagem para a China, a ilha, o pôr-do-sol no país ao lado, a fronteira, as câmaras de segurança, o pastel de nata, a luz dos casinos e das lojas, os táxis, a ponte, os barcos para Hong Kong, os navios e o porto, o clube militar onde também eu estive em pequeno porto de honra chique com as autoridades da altura, as ruínas de são paulo, os cemitérios e o incenso por todo o lado, a cor das águas, a vegetação, as árvores da avenida de onde saiu o mar, o inesquecível jardim Camões e o busto, o pequeno pagode onde tocavam músicos, de tudo me lembro como se o tivesse visto hoje (e vi).

excelente, a força de um olhar português (não podia pertencer a mais ninguém, este olhar), mesmo que sem ficção. esqueçam a ficção, nem era precisa.

"Phony exotic schoolboy thriller meets impressionistic travelogue in a gloriously melancholy WTF requiem for the past.", diz Jorge Mourinha no mubi.

na slant.



Alvorada Vermelha, (imagem em cima), segue um dia de execuções sumárias dos animais do mercado de Macau, um documento chocante mas poético - a vida e o nosso lugar no mundo. (também recomendo vivamente a quem quiser tornar-se vegetariano já hoje).

em ambos, fiquei a pensar se não se tratava tantas vezes de uma candid camera.

sobre este Macau, João Lopes.

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