light gazing, ışığa bakmak

Saturday, September 22, 2007

A noite do grande chefe Sealth

Chief Seattle

Comprei há tempo "A noite do Índio, discurso do Chefe Seattle", uma 2ª edição da Casa do Sul Editora, de Évora. Um livrinho de 30 páginas, ao qual bastaria reduzir o tamanho da letra para passar com facilidade para o tamanho "folheto".

A temática dos índios americanos, a zona do noroeste americano, uma breve polémica sobre a autencididade de um texto anterior e o facto de se tratar de uma pequena editora de Évora, foram tudo factores muito favoráveis à compra. Mas indispensável foi o destaque dado pela Bulhosa Livreiros ao livro, pois seria praticamente impossível encontrá-lo numa prateleira.

Suquamish

Um pouco irritantes são o tamanho da letra, que nada engana, apenas aborrece - o comprador sente que o querem enganar - e algumas expressões utilizadas pelo tradutor e apresentador, Joaquim Palma. Alguns exemplos (acabo de entornar um pedaço de meia de leite no meu moleskin, o que não está a ajudar...): "Logo na primeira leitura, a perplexidade tomou conta de nós...", "pioneiro de cara pálida", e... "termos dado vida a algo que, daqui para a frente, será sempre, e sem falsa modéstia, um marco de referência obrigatória quando, em Portugal, se falar do discurso do Chefe Seattle."

Nada de terrível, mas mancha um pouco. Seria positivo que a informação factual e cronológica, bem como o historial do Chefe Seatlle e da sua tribo nos fossem dados. Afinal o que se passou posteriormente com os Suquamish? Podíamos ter mais informação e a obra podia ter sido contextualizada, o que não foi de todo. Mas, e apesar dos defeitos, devo dizer que este é um livrinho admirável e que merece bem entrar na estante lá de casa ou no pacote de papel de embrulho com o laço e o cartão....

Para abrir apetites, deixo algumas partes de "A noite do Índio".

"O vosso Deus ama o vosso povo e odeia o meu. Ele envolve ternamente, com os seus fortes e protectors braços, o Cara-Pálida e guia-o como um pai faz com o seu filho. Mas Ele abandonou os seus filhos de pele vermelha. O vosso Deus torna o vosso povo mais forte a cada dia que passa; em breve ocupareis toda a terra. Enquanto que o nosso povo está a recuar rapidamente como uma maré que nunca mais regressará. O Deus do homem de pele branca não é capaz de amar o nosso povo, visto que não o protege. Somos como órfãos que em parte alguma encontram ajuda. Assim, como poderemos ser irmãos?"

"A vossa religião foi escrita em placas de pedra pelo dedo de ferro de um Deus encolerizado, para que não fosse esquecida. O Pele-Vermelha nunca poderia relembrar ou compreender isso. A nossa religião é a tradição que vem dos nossos avós, é os sonhos dos nossos anciãos, transmitidos pelo Grande Espírito, e é também as visões dos nossos Chefes. Ela está escrita no coração do nosso povo."

"Pouco interessa saber onde vamos passar o resto dos nossos dias, que não serão muitos. A noite do índio promete ser muito escura. Nenhuma estrela brilhará acima do horizonte. Ventos carregados de tristeza gemem ao longe. Um destino ameaçador parece levantar-se no caminho do Pele-Vermelha, e onde quer que esteja ouvirá sempre os passos do seu impiedoso destruidor."

"Cada lugar desta região é sagrado para o meu povo. Cada encosta, cada vale, cada planície, cada bosque tornou-se para nós precioso em consequência de algum triste ou feliz acontecimento relacionado com a nossa tribo. Até mesmo as pedras, que estão ao longo da praia silenciosa suportando com solene grandeza o calor intenso, e que parecem não ter voz, vibram com memórias de acontecimentos muito importantes ligados à vida do meu povo. O próprio pó, sobre o qual agora estais, responde mais ternamente ao caminhar do Pele-Vermelha do que ao vosso, porque ele é cinza dos nossos avós."

"À noite, quando as ruas das vossas cidades e aldeias estiverem em silêncio e pensardes que estão desertas, elas serão invadidas pelos espíritos que outrora aqui viveram e que ainda amam esta maravilhosa terra."

Um testemunho, talvez, a voz do Chefe Sealth é o espírito dos mortos que ainda perdura. Mas é também a voz que representa todos os que hoje e agora continuam a ser extintos pelo "homem branco".

Os Suquamish, a tribo do Chefe Seattle, sobrevivem ainda na reserva. Continuam ainda hoje em processo litigioso com o estado americano pela posse das suas terras. Sobrevivem com poucos recursos, mas sobretudo do casino que funciona dentro da reserva, à semelhança de tantas outras tribos e reservas espalhadas pelos Estados Unidos. Os Suquamish registados como fazendo parte da tribo são hoje 780 pessoas. Um resumo pode ser lido aqui.

*Sealth é a grafia original do nome do Chefe Índio, depois transformada em Seattle.

Suquamish

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