light gazing, ışığa bakmak

Monday, November 26, 2007

Tema e variações de Olivier Messiaen

Em 1988, na Herkulessal em Munique, Gidon Kremer e Marta Argerich gravaram o Tema e Variações de Messian para violino e piano, 1991 é a data do disco da Deutsche Grammophon. Um pouco injustamente, esta obra foi referida como um "filler" pelo NY Times, em parte pela proximidade da monumental sonata de Bartók. Belíssima, nem tenho outras palavras para esta peça. Não sei quem a gravou melhor, se a dupla Kremer-Argerich, se alguém mais. Esta gravação de 1991 parece-me perfeita, mas o que sou eu, "hypocrite auditeur"...

Ouvir estas variações fez-me deambular pelos limites da comunicação, um tema recorrente na minha curiosidade. Olivier Messiaen é muitas vezes tornado secundário pelo seu carácter dito "místico", para o público em geral, aquele que não ouve nem gosta de música clássica, Messiaen é talvez um dos compositores do século XX mais inacessíveis, estranho, ilógico. Música clássica? Não gosto.

Ouvi muita coisa antes de Messiaen, e tinha de ser assim. Muita da música deste século/milénio parece poder ser ouvida sem mais nada, como se flutuasse novelmente num universo sem história. Claro que sem história nem África. A facilidade de pensar que entendo tudo sem sequer chegar próximo. Ou a facilidade de pensar que o entendimento não é necessário. Os limites da comunicação.

O Tema e Variações (1932) foi escrito para a primeira mulher de Messiaen, Claire Delbos, violinista. A história de Claire é dramática. Uma condição psicológica instável e problemática, que tem início quando Messiaen conhece uma jovem pianista, sua aluna, levam a que seja internada numa instituição psiquiátrica, onde acaba por morrer. A sucessão de datas mostra bem o inferno de Claire e a vida mais obscura do músico místico: o casamento acontece em 1932. No início dos anos 40, Messiaen conhece a sua aluna, Yvone Loriot. No início dos anos 50 Claire é internada e morre em 1959. Messiaen não refere a sua morte a ninguém nem sequer está presente funeral. Dois anos mais tarde casa com Yvone. Parte desta informação no livro "Messiaen" de Peter Hill e Niger Simeone, recenceados por Alex Ross, crítico de música da revista "New Yorker" e por David Schiff para o "The Nation".


Yvonne à esquerda, Olivier à direita, em finais dos anos 70.

Do site da violinista Midori, aquilo que os músicos ouvem:

"The theme is only 28 bars of a simple construction, comprised of three materials. Each can be easily grasped by the listener. Though short, the shape of the theme is very clear, with the most outward expressiveness heard in the middle material. The end of the theme as well as all the variations, including the final, is inconclusive. It either segues into the next variation or leaves the sense of an unanswered question.

The first variation is straightforward in construction, following the same form as the theme. However, it is slightly faster. The relationship to the theme in the following three variations becomes increasingly difficult to discern. The second variation is contrapuntal in three voices, where each voice is derived from one of the three materials from the theme, but played simultaneously. This second variation is followed by one with the most brilliant sonority. Here, the meter is manipulated to throw off balance the rhythmic symmetry. The fourth variation, which stems out of the third, is the bridge to the climactic final variation. Agitated and increasingly gaining in speed, the latter half of the fourth variation is not dissimilar from the tarantella. The piano part is in perpetual motion, and the violin part re-introduces the theme in snippets. Finally, in the fifth and last variation, the theme returns in the violin in the original form but an octave higher. However, its character has been completely transformed by the intervening variations. Majestic, mystical, and solemn, the violin line soars above the chordal grandeur of the piano part. Romantic in its melancholic treatment of the already-heard materials, the piece ends, without completion, with a sense of inevitability of fate.

Many of Messiaen’s works were expressive of his religious beliefs, but a handful portray his feelings toward his family. Thème et Variations was a wedding present to his first wife, Claire Delbos, who was a violinist and a composer.Since Messiaen wrote Thème et Variations when very young, the piece does not have the careful scholarship he gave to compositions from his later years. However, comparatively naive as it may be, the piece bears the strong roots of Messiaen's distinguishing musical language."

E as notas de Gregory Marion. De um modo resumido, uma obra do início da carreira de Messian, influenciado ainda por "Pélleas e Melisande", mas antecipando já o que viria a ser o seu som.

Para ouvir quem quer:
Theme and Variations for Violin and Piano
Thème. Modéré
Variation I. Modéré
Variation II. Un peu moins modéré
Variation III. Modéré, avec éclat
Variation IV. Vif et passionné
Variation V. Très modéré

O que ouve cada pessoa. O que lê cada pessoa quando lê: "O vazio. Como tentar dizer? Como tentar falhar? Não tentar não falhar. Dizer somente -". Beckett em "Worstward Ho", numa tradução de Miguel Esteves Cardoso, e os limites da comunicação.

---
messiaen.org
messiaen.net

No comments:

 
Share