Na Granta. Tradução minha, o original aqui.
(em construção)
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TA - Quando acabou o romance The Lay of the Land, deu a entende que nunca mais escreveria um romance longo. Ainda pensa assim?
RF - Ainda penso dessa maneira, penso ainda mais. The Lay of the Land foi para mim um grande esforço e, como qualquer esforço, inteiramente único. E requer uma devoção comensurável (se não exactamente igual) por parte do leitor. Para além de não me imaginar a escrever um romance tão longo novamente (e não me imagino), também não me imagino a querer escrever uma coisa que exija do leitor qualquer coisa como a mesma energia intensa - extensão, complexidade e grandeza em geral. Eu gostava de escrever outro romance, sim. Eu gostava de escrever muita coisa. Mas não consigo imaginar outro empreendimento como o Lay of the Land. Algumas coisas simplesmente não precisam de ser feitas duas vezes - especialmente quando penso que a primeira vez correu bem.
TA - Enquadra o livro por altura da tão disputada primeira eleição presidencial de Bush. Pensa que essa eleição definiu o destino da América?
RF - Definiu o destino da América. Sem dúvida. Tendo em conta que a eleição foi roubada pelos Republicanos, e tendo em conta que o eleitorado americano estava suficientemente desinspirado para permitir uma corrida tão renhida, e tendo em conta que o sistema bi-partidário (particularmente os Democratas inúteis) permitiu que um homem com a extraordinária incompetência e desonestidade de George Bush se tornasse o líder do nosso país - tendo em conta que todas estas coisas são verdadeiras e tiveram lugar no coração da eleição em 2000, então esse conjunto de acontecimentos pode ser visto como a causa directa das circunstâncias impensáveis no Iraque de hoje, a causa da perda de muitas vidas inocentes, e a causa do papel quase obliterado da América enquanto poder potencial para o bem na política internacional. É este o destino final da América? Eu espero bem que não. É a situação em que estamos hoje. E eu espero que tenhamos um destino melhor e mais saudável do que este. Mas não há dúvida quanto ao evento inicial na cadeia de eventos que nos fez aterrar nesta confusão.
TA - Porque é que pensa que tantos romancistas americanos - alguns surpreendentemente, com John Updike, outros menos, como Don DeLillo - se sentiram obrigados a enfrentar o 11 de Setembro de um modo tão directo na ficção?
RF - Eles ficaram sensibilizados por estes acontecimentos. Não é muito complicado. No caso do DeLillo e do Updike, eles são ambos escritores muito realizados que têm uma confiança fora do comum nas suas capacidades de tornar seu um qualquer assunto. O facto de eu não o fazer, não o ter feito, significa provavelmente que eu não estou no mesmo patamar deles em qualquer frente. De outro modo, tê-lo-ia certamente feito. Não é?
TA - Grande parte do sentido de estar fora do sítio de Frank Bascombe e da sua dor vêm da morte do seu filho. Toda a sua escrita parece ter esta atmosfera de perda. Onde é que julga estar a fonte dessa perda na sua própria vida?
RF - Em primeiro lugar, não penso que seja necessário que um escritor que escreva sobre a perda (se eu o faço) tenha sentido perda ele próprio. Nós podemos imaginar a perda. Esse é o trabalho do escritor. Enfatizamos, projectamos, fazemos muito do que pode ser uma experiência pequena. Hemingway (como sempre, cheio de bravado) disse "escreve apenas sobre aquilo que conheces". Mas isso não pode significar que só se deva escrever sobre o que se fez ou experimentou. Uma regra como essa que sem qualquer objectivo amarra a imaginação, que confina a curiosidade, a capacidade para enfatizar. Afinal, um romance (se assim o desejar) pode fazer com que o leitor sinta sensações, emoções, que reconheça comportamentos que ele leitor nunca antes viu. O escritor terá de ser capaz de fazer isso também. Alguns assuntos causam simplesmente o que Katherine Anne Porter chamou "uma comoção in the mente". Essa comoção pode ou não ser uma resposta ao que nós fizemos na realidade. Dito isso, eu provavelmente não senti mais perda perda do que qualquer pessoa. Eu fui o filho de um pais mais velhos que eu estava sempre à espera que me morressem. E as velhas tias e tios-avôs do Arkansas que começaram a partir desta vida quando eu ainda era uma criança. Uma das minhas memórias de criança mais vívidas é a do funeral da minha tia Lizzie—no Arkansas—e dela estendida no caixão. Vívida, sim; mas também de uma vida bastante normal. E então o meu pai morreu quando eu tinha dezasseis—morreu nos meus braços, em casa. Isso podia com certeza ser considerado "imprinting". Nós éramos uma família de três pessoas, muito chegada e carinhosa. Por isso senti a perda da sua morte; e provavelmente, também de um modo significativo, eu senti a perda que a minha mãe sentiu—do seu grande amor na vida. O que sentimos o que sentimos é uma coisa complexa.
TA - Olhou, ou olha, para trás, para os anos anteriores à morte do seu pai, quando eram os três, como uma época dourada?
RF - Não, não uma época dourada. Eu desconfio das "épocas douradas". Penso que neste momento neste minuto é era melhor que fosse a época dourada, porque é o que temos. Eu tive uma infância feliz porque os meus pais me amavam e tratavam bem de mim. Mas o meu pai sofreu um ataque de coração sério quando eu tinha oito anos e ele quarenta e oito. E isso coloriu muito a minha vida, porque o assustou de morte e ele nunca se sentiu totalmente bem depois disso—provavelmente não estava bem. E ele estava muito ausente. O seu emprego como vendedor faziam com que viajasse de carro cinco dias por semana, e a minha mãe e eu ficávamos em casa juntos. E nós os dois tínhamos personalidades muito voláteis. E eu nunca fui muito bom na escola; à medida que o tempo passava, um miúdo com tendência para se envolver em problemas—roubar, envolver-se em lutas. Eu era disléxico e nunca li bem. Por isso, não. Não foi "dourada". Mas foi boa.
TA - Roubar teve consequências—foi apanhado?
RF - Não estamos aqui a falar de desviar um camião Brinks ou de ser um ajudante da família Manson; era só roubar um carro ocasionalmente, alguns arrombamentos fortuitos, e outras ofensas menores. E fui apanhado, levado para a frente de um juiz de juvenis, posto em liberdade condicional—o que foi um bocado horrível mas também era uma condecoração de honra. Isto tudo assustava a minha mãe, estristecia-a muito, de facto. E no que diz respeito a consequências, suponho que eu via as consequências do meu comportamento nela - o que era mau. Eu estava em liberdade condicional na altura em que o meu pai morreu; a minha mãe fez-me sentar e disse-me que não ia poder tomar conta de mim da mesma maneira que tinha até aí - porque tinha de arranjar um emprego e não ia estar em casa - e que o melhor era eu não ir preso ou para o tribunal de menores de novo porque ela não me ia safar. Isto teve um grande impacto em mim e foi uma espécie de consequência. Mas eu não era um criminoso por compromisso. Era mais um idiota.
TA - Pensa que a dislexia alterou o seu modo de ler?
RF - Absolutamente. Eu leio lentamente, e o resultado disso é não ter lido tantos livros como deveria ter lido - para se considerar que eu tenho uma boa formação. Mas o que eu li - porque leio devagar e com atenção - parece que li bem. E, mais importante, quando se lê devagar também se fica disponível para aquelas qualidades da linguagem diferentes das qualidades cognitivas. Fica-se sensível ao que se pode chamar as qualidades poéticas - rimas, repetições, sonoridades, síncopes, a eficácia da escolha de uma determinada palavra - essas qualidades. São importantes - pelo menos são para mim. Isto teve consequências não só sobre o meu modo de leitura mas sobre os meus objectivos enquanto escritor de frases.
light gazing, ışığa bakmak
Thursday, January 3, 2008
Tim Adams entrevista Richard Ford
Publicado por Ana V. às 9:14 PM
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1 comment:
Se isto n é serviço público, então n sei o que é ;-)
O Bush, ontem, agora, e na hora da sua morte, será para sempre recordado como o Imbecil que chegou a Presidente dos Estados Unidos da América, o que só prova que a Democracia Americana é quase tão perfeita como a Democracia Iraniana
Um abraço,
Nedra, o anónimo
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