Por vezes a noite cai de chumbo sobre os seus ombros. Nesses dias desce ao centro da vila e atravessa a praça. A uma esquina a farmácia e o letreiro intrusivo de néon verde, berrante, debaixo das arcadas de um prédio antigo um pedinte esporádico que dorme e, cobrindo toda a área da praça, a calçada usual com motivos de marinhagem. Senta-se no bar irlandês e bebe uma Guiness, a espuma na boca como o sexo de uma mulher imaginária. Os dedos vazios apoiam-se na mesa de metal. Sentindo a dentada do gelo, entrega-se ao grande vácuo, sem desejo, sem futuro.
A isto chamo fantasiar. A expressão das suas visões, dos seus sonhos, por mais medíocres e insignificantes, no mais literal sentido nulo, dá um prazer pouco explicado ao cidadão comum, "homens e mulheres do meu país". A necessidade do tal mais qualquer coisa, uma transcendência qualquer e o sobreviver do amor-próprio, sobretudo isto. Assim me justifico e me engano. Olhando para esse golito que bebo e que cuspo, vem-me um repúdio infinito por sequer olhar para as letras brancas no teclado. Cala-te.
light gazing, ışığa bakmak
Friday, February 29, 2008
noite
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment