light gazing, ışığa bakmak

Thursday, February 28, 2008

ocupado

Há dez anos pegara no telefone e marcara o número. Nos primeiros dois anos ficou em espera. Depois disso foram só intermitências e intervalos. Quanto tempo se pode esperar por uma chamada, pensava. Estás-me a ouvir? A linha caía, enrolava-se, chegava a ondear. Por fim, restou-lhe um ódio ao aparelho. Já nem tentava escutar, nem se preocupava em ser entendido. Tinha apenas uma certeza, do outro lado ninguém escutava; o seu único ponto de chegada - e de partida - era o desejo de se ver livre daquele intruso. Vou desligar.

A palavra ocupado encheu-lhe a cabeça. Insidiosamente. Sempre associara a palavra "ocupado" a um pequeno espaço esconso, mas este era um império.

3 comments:

Anonymous said...

Completamente a dez-propósito: agora lembrei-me do Sigmund.

Beijinho de boa quinta, hoje só no primeiro. =oP

Ana V. said...

Qualquer semelhança é pura coincifluência. Isto são só os dez anos do último casamento, foi uma inspiração do caraças. Not in the best of moods, guess you could tell. Beijos que amanhã já é sexta.

jorge vicente said...

mais um texto fantástico.

 
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