light gazing, ışığa bakmak

Friday, April 25, 2008

quando os meus livros migram

mudo de casa novamente, outra e outra vez, sempre a ajeitar objectos aos locais, diferentes ou o mesmo. de cada vez a olhar para uma nova casa, vazia, de cada vez começar a dispor coisas, como se nada tivesse sido. o que foi peneirado. migrar, para dentro, nunca para fora, ainda hei-de traçar no mapa os meus círculos. parecendo que ando e fico, pior quando admito que parecia que ficava e acabei por andar. quando os meus livros migram são só o rasto do cometa, restos de pó e cinza.

. . .

Pouso no papel deste poema, a minha boca
na tua boca e os beijos não existem,
nem sequer ao vento uma leve cortina
que esvoace. Nada, rapace, nada sente
essa boca distante, a tua boca,
o peso de algodão da pena de uma ave,
lábios, língua, dentes, saliva.
Por quanto tempo ainda, noite em noite,
irei pela cidade sem beijar, sem
de verdade beijar em qualquer boca
essa fome que não beijei, a tua.

Joaquim Manuel Magalhães

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