light gazing, ışığa bakmak

Friday, April 11, 2008

adrienne

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À noite, enquanto faço uma qualquer tarefa repetitiva, relaxamento dos músculos, a mão ocupada, se útil tanto melhor, leio Adrienne Rich. Gosto das palavras coloquiais, gosto dos ecos de outros poemas, neste caso de
John Donne, uma leitura que fiz há pelo menos vinte anos e que me lembro como se fosse hoje. Algumas memórias de afecto falham-me, outras, como essa, estão nítidas como água clara. Talvez por me terem alterado o curso. Escreve-se muito sobre Rich e a sua poesia concreta, por ser activista, por se ter tornado lésbica depois de três filhos e uma vida de norma. Pelo suicídio do seu marido. Valediction foi o seu adeus a essa norma, li. Não me interessa muito a vida particular de Rich, nem do marido, nem da sua companheira. A sua defesa das lésbicas e o destaque que lhe é dado pelo seu lobby. Não deixo de pensar que são fait divers literários que ajudam ou não a deslindar a escrita. A escrita que vale pelas palavras que deixa abertas e que não pertence ao autor depois de ser pública. Leio desta maneira ou daquela, mesmo que errada. Se a sua biografia estivesse a tolher-lhe as palavras, como poderia eu que não sou lésbica lê-la e fazê-la minha. Passei a noite com Rich no ecrã, não tenho em português e livro apenas um, se não me engano. Colectâneas nem contam. Enquanto fazia um outro tricot, mas mais útil, parece. The circle of souls, "perfect motions are all circular" (Donne). Quando a vida se torna demasiado pesada, há facilmente outras. Muitas outras.
. . .


A Valediction Forbidding Mourning
Adrienne Rich

My swirling wants. Your frozen lips.
The grammar turned and attacked me.
Themes, written under duress.
Emptiness of the notations.

They gave me a drug that slowed the healing of wounds.

I want you to see this before I leave:
the experience of repetition as death
the failure of criticism to locate the pain
the poster in the bus that said:
my bleeding is under control

A red plant in a cemetary of plastic wreaths.

A last attempt: the language is a dialect called metaphor.
These images go unglossed: hair, glacier, flashlight.
When I think of a landscape I am thinking of a time.
When I talk of taking a trip I mean forever.
I could say: those mountains have a meaning
but further than that I could not say.

To do something very common, in my own way.


Ghost of a Chance
Adrienne Rich

You see a man
trying to think.

You want to say
to everything:
Keep off! Give him room!
But you only watch,
terrified
the old consolations
will get him at last
like a fish
half-dead from flopping
and almost crawling
across the shingle,
almost breathing
the raw, agonizing
air
till a wave
pulls it back blind into the triumphant
sea.

2 comments:

Anonymous said...

Bom fim de semana.
Beijos

Ana V. said...

Olá Armando, obrigada! Para ti também. Um beijinho. Ana

 
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