light gazing, ışığa bakmak

Monday, June 9, 2008

short fiction, short prose, proems

um novo género ou nem tão pouco. lembro-me de um livro que me arrependo de não ter comprado há tempos, de Francis Ponge. Agora acumulo listas e a feira a terminar já no Domingo. a prosa curta não é de agora mas é sobretudo de agora que o papel é luminoso e passou a vertical.

La Bougie
Francis Ponge
in Le parti pris des choses (1942) ou The Defense of Things, sometimes also translated as The Voice of Things or still Siding With Things

La nuit parfois ravive une plante singulière dont la lueur décompose les chambres meublées en massifs d'ombre.
Sa feuille d'or tient impassible au creux d'une colonnette d'albâtre par un pédoncule très noir.
Les papillons miteux l'assaillent de préférence à la lune trop haute, qui vaporise les bois. Mais brûlés aussitôt ou vannés dans la bagarre, tous frémissent aux bords d'une frénésie voisine de la stupeur.
Cependant la bougie, par le vacillement des clartés sur le livre au brusque dégagement des fumées originales encourage le lecteur, - puis s'incline sur son assiette et se noie dans son aliment.

The Candle
On occasion night revives an unusual plant whose glow rearranges furnished rooms into masses of shadow.
Its gold leaf, held by a very black pedicel, stands unmoved in the hollow of a slender alabaster column
Miserable butterflies assail it prefering it to the moon that is too high, vaporizing the woods. But instantly singed or knocked out of battle, they simmer on the verge of a frenzy akin to stupor.
In the meantime the candle, by flickering lights across the book to the sudden dissipation of the original smoke, encourages the reader, - then curves to his plate and dissolves itself in his food.

A Vela
tradução de Ruy Vasconcelos, daqui.

A noite por vezes reaviva uma planta singular cujo clarão decompõe a peça mobiliada em massiva sombra. Sua folha de ouro domina impassível à croa de uma colunata de alabastro desde um pendúnculo bem negro. As vespas desgraçadas a atacam de preferência à lua mais alta, que vaporiza o bosque. Mas se queimam logo coando-se do tumulto, todas frêmito à margem de um frenesi rente ao estupor. Entretanto a vela, pelo vacilar da réstia sobre o livro no brusco desfio do defumo original encoraja o leitor, - depois reclina sobre seu prato e afoga-se em seu alimento.

Também gostei bastante deste texto de Peter Sirr. E deste de Paul Henri. Uma coisa tenho por certa, Ponge foi tão genial que difícil é encontrar tradutor à altura. A aparente facilidade dos textos induz ao erro, qualquer um julga que pode traduzir. Redondo erro. Li, nesta procura, traduções tão más que não acertavam uma palavra. E esta noite, na CNN, uma jornalista de quem eu até gostava, perguntou a um painel de franceses se a cultura francesa estava morta.
. . .

outros: Fyodor Sologub, Daniil Kharms, Dezső Kosztolányi, István Örkény, Samuel Beckett (Fizzles), David Eggers (Short Short Stories), Eduardo Berti (La Vie Impossible)and Szilvia Molnar.

2 comments:

Anonymous said...

É um bocado "inocente" da minha parte falar nisto, mas também acho que há textos absolutamente intraduzíveis. Textos no seu todo, palavra, ritmo, intenção, subterfúgio. Às vezes está lá quase tudo, e falta "um bocadinho assssssim".

Sério que a jornalista fez essa pergunta? Se ela não jogasse tanta Playstation... tsktsk... :P Gostava de "ler" a cara de quem a ouviu... Também gostava de a ouvir "desenvolver a bela da tese" (sem recorrer a enlatados).

Beijinhos e bom feriado! Sem planos, a não ser um almoço surpresa. =o)

Ana V. said...

:) por acaso foram civilizadíssimos, à francesa, mais do que ela, mas isso nem foi difícil. uma das respostas foi muito interessante: uma economista disse que a cultura é uma das únicas coisas que não se pode deslocalizar. que a França tem não sei quantos milhares de pessoas a trabalhar na cultura e que para além do valor intelectual é um valor económico real. que tudo se pode deslocalizar para a China, mas a cultura não. classe de resposta.....
para mim, qualquer texto é praticamente intraduzível. a tal cultura, como é que se traduz? no outro dia, a propósito dos jogadores estrangeiros na selecção ouvi dizer que um português que é português tem de reconhecer a palavra Porcalhota. Claro que só tenho a favor do Deco e do Pepe, mas quando alguém escreve Porcalhota não há maneira de traduzir.
Bom Feriado! Ando a fugir aos almoços, mas um surpresa é sempre bom. Importante: não esquecer as caipirinhas e abastecer já de tremoços, bandeiras e pistachios para quarta-feira. :)

 
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