light gazing, ışığa bakmak

Friday, July 18, 2008

viagens

"O Bairro das Gaiolas era muito pior do que eu imaginara. Conhecia-o através de algumas fotografias de um fotógrafo célebre e pensava estar preparado para a miséria humana, mas as fotografias fecham o visível num rectângulo. O visível sem moldura é sempre uma coisa diferente. E depois aquele visível tinha um cheiro demasiado forte. Melhor dizendo, muitos cheiros.

Quando entrámos no bairro caía o crepúsculo e, o tempo de percorrer uma rua, de repente, como acontece nos trópicos, caiu a noite. Uma grande parte das construções do Bairro das Gaiolas é de madeira e de esteiras. As prostitutas estão em casotas de tábuas desconjuntadas, com a cabeça de fora através de um postigo. Algumas daquelas casotas eram pouco maiores do que a guarita de uma sentinela. E depois havia barracas e cortinas de farrapos, talvez lojas ou outras actividades comerciais, iluminadas com candeeiros de petróleo, diante das quais havia magotes de gente. Mas o hotel Khajuraho tinha uma pequena tabuleta iluminada e ficava quase à esquina de uma rua com edifícios em construção."

in Nocturno Indiano
Antonio Tabucchi,
aqui todo, em português.

"If a politician’s job is to soothe people, to show that all’s well because of his or her presence, mine is to disturb people, to sow the seeds of doubt. The capacity to doubt is very important for human beings. For heaven’s sake, if we don’t have any doubts, we’re finished! An intellectual is going to have doubts, for example, about a fundamentalist religious doctrine that admits no doubt, about an imposed political system that allows no doubt, about a perfect aesthetic that has no room for doubt. Doubts are like stains on a shirt. I like shirts with stains, because when I’m given a shirt that’s too clean, one that’s completely white, I immediately start having doubts. It’s the job of intellectuals and writers to cast doubt on perfection. Perfection spawns doctrines, dictators and totalitarian ideas." daqui.

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