light gazing, ışığa bakmak

Thursday, September 25, 2008

isto não é um blogue

qualquer parecença podia ser coincidência mas estando no blogger não posso dizer que seja. isto podia ser qualquer coisa, porque estou aqui enquanto vou falando, porque não me apetece calar, porque tenho um carácter inventivo. invento histórias, mas a pensar em quem vai suspender a desconfiança. ao meu filho disse que as nuvens descansam na serra, isto é verdade mas podia ser outra mentira. sou apologista da mentira, tenho de ser, olhando para as estantes, e também da verdade mais absoluta e abismal, mas também tinha de ser, olhando para as mesmas estantes. a verdade não é para mim, só a mentira. mentira-ficção, a mentira de fingir que isto é um blogue ou um diário. não é, são só impressões ou invenções diárias. a minha filha quer que eu arranje um mitsubishi strakar, diz que condiz com a minha personalidade. podia ser mentira, podia ser verdade. isto não é um livro, nem quer ser. se fosse para ser livro, escrevia em fóruns de livros ou de poesia. poesia é que isto não é. por vezes quero dizer-te qualquer coisa e vêm-me imagens de gestos no espaço, depois gasto-os em palavras que não servem para nada, que nem sequer chegam a espelhar uma ponta do que eu tinha visto e que te queria mostrar. não vale a pena seguir cronologia, isto também não é uma autobiografia. aparecem coisas de ontem, de antes de ontem e por vezes as coisas que vão acontecer daqui a três anos. se eu tirasse cartas este não-blogue seria útil, assim é inútil, isso sim, de uma inutilidade naïve e primária. podia ser sofisticado e construir ideias genialmente originais, mas nesse caso teria de ser livro e já fugia ao âmbito dos desejos. posso chamar-lhe reserva de desejos; o desejo de estar contigo, o desejo de estar noutros lugares, de encontrar outras coisas. aí seria verdadeira. ou nem tanto.


[*o abismal é um pequeno token à Pec, um pedido de escrita. tirei a senha e estou aguardando a vez.]

8 comments:

Anonymous said...

e, no entanto, a cada palavra mais uma verdade, não é, Ana? Outra verdade n'A Mesa.

Mas às vezes abres o chapéu de sol - imagens a preto e branco de um lado, texto colorido do outro - esperas pela ventania que imaginas, e que chega, e que te leva nos braços num fim de tarde. Isto acontece uma vez na vida. Com sorte, duas. E no fim, se te espera um fim, fica um espaço. Onde não sobram palavras nem cá nem lá. Por tantas razões e nenhumas. Entre notas, entre coisas, entre absolutos. Entre palavras, como se presa dentro de um espelho ficasses, nem eu-antesdaventania nem eu-insolita/mente/pássaro e dali não conseguisses ou quisesses sair.

Nem a palavra confortável [mentirosa] supera a vida que não se escreve. Tenho saudades de ter coragem de escrever.

Ana V. said...

outra verdade. e todas deixam cicatriz. em Faro deitam sal num buraco na areia que tem a forma de um buraco de fechadura e sai de lá um ligueirão ou canivete. sempre achei uma forma de "caçar" um pouco perversa, mas por vezes resulta :)
estava a escrevinhar isto e a pensar sweet waking life, who needs dreams. se a minha estivesse entre palavras, não precisava de mentir tanto. quando voltares, tens sempre gente com senhas na mão. por enquanto enjoy the wind-flight que é mesmo uma vez, com muita muita sorte duas. beijo. Ana

Tozzola said...

Olá.
Isto não é um comentário...
É uma visita. Onde me sento?
O que vale é que as revistas para passar o tempo são sempre do dia.
Nem tirei senha!

Anonymous said...

é um bom texto

Ana V. said...

trouxeste o mocho, claro... ;))

Ana V. said...

para o anónimo.. pode ser um beijo na boca :))))))))

Anonymous said...

E eu tenho pena de não conseguir desvelar-me assim, deixar fluir a 'pena', mas fico feliz porque vos conheço e leio.

Ana V. said...

Armando.. quem não arrisca não petisca e nem costumo gostar de ditados embora os coleccione. um beijinho

 
Share