partindo daqui
numa sala iluminada por uma lâmpada que cambaleia no tecto, espero alguém que há-de bater à porta. o espaço está fechado. depois da noite ter caído, o tempo encheu-se de ar fluido. enchi o cachimbo meticulosamente. ao fundo da sala um insecto ignora-me, com hostilidade. queria vê-la entrar por aquela porta fechada, toda vestida de branco. e em torno dela um véu de aromas, frutos silvestres e baunilha. queria acender-lhe uma vela e declamar um soneto qualquer, longo, denso, dramático. de como as águas se partiram e de como as montanhas ruíram na sua ausência. sentado na semi-obscuridade, pressinto a serpente de fumo que me tenta. caindo a noite levantam-se os espectros da luz, os renegados, irmãos. levanto-me sem nada nas mãos e penso em cataratas que caem na noite longe daqui. de pé no meio do espaço vazio ouço o surdo abater do dia.
para aqui
o tempo encheu-se de iluminadas cataratas que caem depois da noite, aromas, frutos silvestres, como as montanhas ruíram na semi-obscuridade e como o cachimbo meticulosamente me invade o pensamento. aquela porta-espaço está fechada. à porta e ao fundo da baunilha, queria um véu de montanhas que ruíram. por aquela porta como as águas no fundo que me tenta. tentáculos de um soneto qualquer, longo, me tentam. tentáculos de desejo, braços de fumo. tentáculos de desejo, por uma lâmpada sentada na semi-obscuridade, numa sala iluminada, fechada, toda vestida de ar fluido. enchi o cachimbo de desejo, braços translúcidos, penso em ar fluido. enchi a porta. o que cambaleia no fumo que me invade os frios do esquecimento, queria acender-lhe uma vela. penso em acender-lhe uma vela e ignora-me, com hostilidade. na noite longe fumo dramático. o cachimbo meticulosamente em torno dela toda vestida de branco. e em torno dos frios do esquecimento denso. na sala um insecto no tecto. espero alguém para declamar na noite longa. queria vê-la entrar daqui. os dedos ignoram-me, com hostilidade, a sua ausência. espero alguém que cambaleia no tecto. espero alguém que há-de acender na nuca um soneto qualquer, longo. pressinto a serpente nas cataratas que caem.
para aqui
que há-de bater, acender-lhe uma vela depois de ter caído, os aromas, frutos silvestres. queria vê-la entrar na noite depois da noite. depois de ter caído e o cachimbo ruído meticulosamente. tecto. espero alguém que se encheu de ar fluido. enchi o cachimbo translúcido, penso nela, toda vestida numa sala iluminada, as montanhas ruíram na noite longe de um soneto qualquer, longo, o espaço está fechado de fumo que ao fundo pressinto, a serpente à porta. e declamar um soneto qualquer, longo, que cambaleia no fumo que me sinto. espero alguém na sala, um insecto. o tempo encheu-se dos que se partiram e em torno dela como as águas queria vê-la entrar por uma lâmpada de ar fluido. enchi-me de desejo, de braços, queria vê-la entrar que cambaleia na sua ausência, à porta. o tempo encheu-se de branco. e que há-de bater e invadir o pensamento. pressinto a serpente-fumo que me faz declamar o ar fluido. enchi cataratas que caem depois na noite por uma lâmpada me tenta. tentáculos frios do esquecimento por aquela porta um véu fechado. queria por aquela porta um soneto qualquer, longo. tentáculos por aquela porta numa sala iluminada. os dedos densos, dramáticos. invade-me o pensamento, na nuca, e ignora-me, com hostilidade. aromas, frutos silvestres e baunilha. queria sentado na semi-obscuridade, um véu de montanha numa sala iluminada, cataratas que caem na semi-obscuridade, o cachimbo meticulosamente fechado.
para...
é a Non-Linear Adding Machine de William Burroughs e de Brion Gysin.
"Words don't have brands on them the way cattle do" said Burroughs as he sipped his Martini. Beckett scoffed as Burroughs went on, "Shakespeare, Rimbaud, newspapers, magazines, conversations, letters..." He rambled on in his slow drawn out way: "I've used them all."
3 comments:
Fico sempre abismado com o que ele diZ....
Se ele não era um dos maiores pensadores da história da humanidade vou ali e já venho :))
por acaso, esta maquineta é uma tentação diabólica :)
Post a Comment