light gazing, ışığa bakmak

Thursday, February 5, 2009

"If a bullet should enter my brain, let the bullet destroy every closet door."


Há muito tempo que esperava para ver Milk, ou melhor dizendo Sean Penn na pele de Harvey Milk, o primeiro homossexual a ser eleito para um cargo público na Califórnia. Sinopse do filme: "Cansado de se esconder de si próprio, Harvey (Sean Penn) abandona o seu bem remunerado emprego em Wall Street e decide sair do armário, mudando-se para o distrito "Castro" em São Francisco com o seu amante de longa data, Scott Smith. Na comunidade colorida de Castro, pequenas vitórias conduzem a outras maiores e Harvey ao falar abertamente por aquela maioria silenciosa, acaba por ser o primeiro politico homossexual a ganhar as eleições."



Não posso dizer que sou imparcial, o Sean Penn está na minha lista de oscarizado para sempre, o que ele faz costuma ser muito bom. É o que acontece mais uma vez em Milk, uma transformação completa, o mesmo riso, o mesmo corpo, maneira de andar, sorrir, a voz, o actor muda tão completamente que se torna transparente. Não deixa de ser curioso que Penn prefira a realização; chegou mesmo a anunciar o fim da carreira de actor em 1993.

 Já do filme em si não posso falar com o mesmo entusiasmo, este não é bem o "meu" cinema, embora seja o "meu" actor. Os filmes biográficos, e mais ainda os biográficos celebratórios, têm sempre esse problema quase incontornável de terem de apresentar um dos lados da questão, de terem de transformar o biografado num semi-herói que justifique o filme. Não me recordo de filmes exemplares neste género, mas lembro-me de um muito mau, que nem biográfico era (Cry Freedom). Em Milk, o realizador recorre a processos mais do que gastos e superficiais de puxar ao sentimento que chegam a ser irritantes. Outros aspectos que colidem com o normal visionamento do filme: o modo como a ópera é introduzida no decorrer da acção- mais lugar-comum seria planetário; o facto de simplesmente não existirem mulheres a não ser uma que, como com outras "categorias" - e aqui está uma ideia detestável- chega para toda a "classe2; pior ainda se passa com a categoria família-tradicional, simplesmente retirada da história por conveniência moral. Neste filme, todos os casados são fundamentalistas religiosos; haja equilíbrio.

Finalmente Josh Brolin, nomeado nem sei como para um óscar. Já depois de ver o filme, soube que era para Matt Damon, e não Brolin, o papel de vilão católico. Foi pena a troca, achei que Brolin faz uma personagem superficial, óbvia, e sem motivos. O final do filme parece de todo despropositado no tipo de pessoa amorfa que Brolin trasmitiu ao longo da história.

Apesar dos pesares, um filme quinhentos por cento a ver, tanto pelo protagonista-actor como pelo protagonista malogrado que abriu caminho para a igualdade real de direitos. A sua luta não está morta. Pelo contrário, é hoje mais actual do que nunca, em Portugal e em muitos outros países que se querem civilizados. ("A homosexual with power... that's scary.")

" cannot prevent anyone from getting angry, or mad, or frustrated. I can only hope that they'll turn that anger and frustration and madness into something positive, so that two, three, four, five hundred will step forward, so the gay doctors will come out, the gay lawyers, the gay judges, gay bankers, gay architects ... I hope that every professional gay will say 'enough', come forward and tell everybody, wear a sign, let the world know. Maybe that will help." (Harvey Milk)

nota de rodapé: e não é que Jeff Koons entra em Milk como Art Agnos..

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