Como não sei qual o sentido da minha vida decidi começar uma colecção de pacotes de açúcar. Isto não veio do nada. Ontem à noite vi obliquamente um programa de televisão em que várias pessoas oriundas de muitos países do mundo eram confrontadas com essa pergunta, qual o sentido da vida. É verdade que a maior parte delas, independemente do continente, sexo ou religião, não sabiam responder à resposta. As restantes, um grupo diminuto, invocavam o amor e a família. Por isto, e tendo em conta a minha atracção por miniaturas, decidi-me pelos pacotes de açúcar.
Só depois tentei dar alguma justificação plausível à escolha e pus-me a listar pequenas coisas, conforme me viessem à cabeça. A personagem de Auster que constrói barcos minúsculos dentro de garrafas, as miniaturas de Nadir Afonso, a colecção de insónias de Bernfried Järvi, as polaroids de Hockney e uma colecção de pequenos frascos vazios que carrego na mochila, isto só para falar da última semana. O pensamento começa a rodopiar pelo excesso de sons e de impulsos que recebe de todo o lado, convenço-me que é demasiado barulho, uma gritaria infernal, mas quando concluo que sem conteúdo não haveria nada a dizer, então descanso.
Por razões que prefiro omitir, entre o momento da decisão e o dia em que comecei de facto a recolher os meus objectos decorreram algumas semanas.
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