a propósito de um álbum com data, que podia ser um auto-retrato mas afinal não era, fico-me a pensar nos auto-retratos que deixamos nas nossas fotografias. ninguém as descreveu melhor (será) do que Sy Parish em One Hour Photo: "Family photos depict smiling faces... births, weddings, holidays, children's birthday parties. People take pictures of the happy moments in their lives. Someone looking through our photo album would conclude that we had led a joyous, leisurely existence free of tragedy. No one ever takes a photograph of something they want to forget." fica então o meio auto-retrato onde falta o resto ("Most people don't take snapshots of the little things. The used Band-Aid, the guy at the gas station, the wasp on the Jell-O. But these are the things that make up the true picture of our lives. People don't take pictures of these things."). a vida como ficção de si. certo sendo que as pessoas tristes não têm sequer ficção, não têm memória registada nem alegre e menos ainda triste, o que acaba por ser como se não tivessem existido. fotografemos então, mesmo que não sirva para nada, que não perpetue nada, que ninguém veja, só por força de resistir ao apagamento em vida.
light gazing, ışığa bakmak
Tuesday, March 3, 2009
da memória, a propósito de um álbum datado
já passei muitas fases de álbuns, os cronológicos com legenda, os de memória, os genealógicos, os de liceu. depois um corte de um par de anos sem imagens e um retorno às imagens, mais tarde. álbuns cortados ao meio, espaços em branco pelo meio da história. álbuns em cd com capa e laço de prenda. e outro vazio. mais tarde herdar uma caixa de imagens de outras vidas, invariavelmente a sorrir a preto e branco, grupos dispostos no alpendre depois do almoço de verão, a visita à Batalha, vistas de uma Lisboa anacrónica de duas cores só. pequenas imagens quadradas, terminando com os retratos posados de adultos, casais, crianças, primeiras comunhões. quando se recomeça os retratos são incómodos. é preciso substituir a foto na moldura, não só numa casa mas em várias, um efeito de eco perverso. há anos passei uma tarde inteira numa sala confortavelmente alcatifada a ver fotos de muitos álbuns com data, todos a contar uma história, a construção de uma família. enchiam a estante da sala. anos mais tarde, quando a mulher morreu fora de tempo, ele sobreviveu a muito custo, conheceu outra mulher, planeou casar-se. a casa em que tinha vivido foi vendida, os objectos da mulher desaparecida distribuídos por familiares e por estranhos. fiquei sempre com a dúvida: o que tinha acontecido a todo aquele trabalho de montagem, àquela história exaustiva dos momentos felizes. mas nunca mais o encontrei. seja como for, penso que está na hora de iniciar um novo álbum.
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2 comments:
foice em seara alheia dá sempre mau resultado!!! Isto de usar sistemas informáticos em redes sob controlo tem destas coisas - este umas vezes embirra com o blogger, outras com o wordpress e quando lhe apetece até sites menos recomendáveis deixa visualizar!!!
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Não era um auto retrato por não ser estático - se o considerarmos um momento único. Por ora é apenas um círculo, uma linha e dois pontos.
Eu já devo ir por aí no álb_oito, que a era do digital veio personificar uma catalogação não linear. É pena o preto-e-branco ser muito dispendioso! Em papel, claro...
Beijo e boas memórias
(vê lá se te apanham)
Não sabia que o preto e branco era mais caro. penso que vou continuar no sistema cd por ano, mas vi que é possível imprimir as fotos logo em livro, no Allegro de Alfragide e achei a ideia engraçada.
beijinho, ana
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