light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, March 11, 2009

tantas imagens de "Sanma no aji" parecem cubistas


entrando pela porta do fundo novamente, em Yasujiro Ozu pelo último filme, "Sanma no aji", "An Autumn Afternoon", "O Gosto do Saké". e que filme tão fundamentalmente belo.




à primeira vista olhei-o como histórias de fracasso. a incomunicabilidade é geral, os mais velhos que embora se encontrem frequentemente se sentem, cada um deles, sós. os mais novos fecham-se nos seus desejos sonhados. cada pessoa agarra-se a um conjunto de objectos que justifique o correr dos dias, objectos de desejo que fazem passar o presente na ânsia de um futuro incerto em que esse objecto vai ser adquirido ou conquistado. as personagens movimentam-se num espaço quebrado, de linhas e arestas (hommage to the), um quadriculado intenso em todos os interiores e exteriores, sugerindo um gigantesco jogo de xadrez sem sentido e sem final. o que os fixa afinal, o que conta, são os laços afectivos ou a memória deles. todo o filme é o adeus de um pai a uma filha, ou antes, a aceitação da máxima do velho professor, todos estamos sós. uma reflexão sobre o tempo e sobre as combinações aleatórias em que nos envolvemos no decurso desse tempo. inesquecível a cena da mulher e das cerejas. o marido chega a casa para ser logo interpelado por ela, criticado, picado, numa lenga-lenga contínua, enquanto ele exibe todos os sinais do alheamento, um leve e subtil mal-estar que perpassa todas as cenas. a mulher quer mais coisas, frigorífico, carteira, comprar isto e aquilo (o seu encantamento por um aspirador é das cenas mais suavemente irónicas do filme). pergunta ao marido se ele quer cerejas e ele declina. senta-se ela sozinha à mesa visivelmente irritada e come as cerejas com pressa, cuspindo os caroços para a palma da mão. ou não fossem as cerejas o símbolo japonês da natureza transitória da vida.

2 comments:

Anonymous said...

sōshun
sayo.nara

Ana V. said...

Ohayou!

 
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