light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, May 5, 2009

cinema de animação

aqui há tempos ouvi alguém referir-se ao programa de Vasco Granja da sua juventude como algo entediante ou qualquer outro demérito. nada me podia surpreender ou chocar mais. como tantos outros, eu não perdia um programa, um espaço de curiosidade, de novidade, de descoberta por este admirador maior de Norman McLaren. aqui deixo um mini-programa. o primeiro filme, uma animação do húngaro Istvan Orosz, animação matemática por este designer, artista, animador, e claramente admirador de Escher. o segundo da canadiana Nina Paley que re-escreve o épico Ramayana com sentido de humor. foi o grande vencedor de Annecy este ano.


o que não se diz, tantas vezes, é que Vasco Granja passou seis meses detido no Aljube e outros 16 meses em Peniche. foi sujeito a tortura (para os que dizem anestesiados que não houve tortura em Portugal) simplesmente pelas suas ideias subversivas de mostrar imagens animadas. mais bem explicadinho aqui, na wiki. enjoy.





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"Conte lá então como é que se deu a sua primeira prisão. Qual era o filme exibido?

O filme que eu fui contratar era o "Caminho da Esperança". Naquele tempo entrava à uma da tarde, tinha um emprego na Casa Travassos, onde estive dezasseis anos, e representou muito para mim porque o Rossio era o centro vital de Lisboa, onde conheci e convivi com uma quantidade de intelectuais que não imagina. Convidavam-se para ir a casa deles ou a manifestações, e eu aproveitei isso ao máximo. A minha personalidade, porque não tenho curso nenhum, como lhe disse, foi moldada nesse regime de grande inquietação artística.
Voltando à PIDE...

Pois. O filme era legal (trata de mineiros sicilianos que emigram para França), de Pietro Germi, um dos grandes autores italianos. Simplesmente, o dinheiro é que era para apoio aos presos, e o cinema Capitólio foi assaltado pela PIDE. Eu e a minha mulher saltámos pela janela e não fomos identificados.

Nessa altura já era casado.

Já, casei novo. A minha mulher era de uma família de camponeses do Ribatejo, de esquerda. Conhecemo-nos num baile, eu, que nem sei dançar. Hoje já temos netos e bisnetas.

Saíram então os dois por uma janela do Capitólio...

Exacto, eu, a minha mulher, e muitas outras pessoas. Só que houve uns tipos de uma companhia de seguros, mais papistas que o Papa, que me tinham avisado que se houvesse chatices com a PIDE eles diziam como é que tinha sido, que eu lhes tinha vendido os bilhetes. Eles podiam ter disfarçado, mas não.

E como é que se dá a prisão?

Eles mandaram-me uma contra-fé, e nesse tempo nós éramos rebeldes, pelo que eu rasguei a contra-fé e não quis saber daquilo para nada. Eles depois foram-me buscar a casa e levaram-me para a PIDE. Pela rua, nem foi um carro nem nada (risos). Aí fiquei seis meses.

Onde é que ficou?

No Aljube. Conheço muito bem o Aljube, as músicas, a Sé, a zona envolvente, tudo. Aquilo tinha um ritual impressionante.

Esteve sozinho numa cela ou acompanhado?

Ao princípio estive sozinho numa cela. Nem podia ter livros."

a entrevista completa, aqui.

1 comment:

Popelina said...

Mesa,
Quem disse isso só podia ser alguém de mesmo muito entediante. Estou tão triste...
Tu prestas-lhe aqui uma maravilhosa homenagem.
beijos.

 
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