light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, June 23, 2009

o público sou eu

espero que esta tenha melhor sorte do que a colecção anterior. para já, soube desta e da outra não. falo da "Biblioteca António Lobo Antunes", um nome grande para reedição de livros no domínio público. serve o propósito, ainda bem que existe.


"Agora vamos começar com uma biblioteca na Dom Quixote, em que eu faço pequeninos prefácios, usando o meu nome de maneira a tentar com que esses livros sejam lidos, de grandes escritores. Livros que estejam no domínio público e vão começar a sair este ano. Tinha feito um ensaio com o Tolstoi e com o Daudet, mas aquilo não saiu como eu gostava. Agora vamos começar com o Svevo, A Consciência de Zeno, O Coração das Trevas do Conrad, e A Letra Escarlate de Hawthorne. Portanto, este ano vamos publicar seis ou nove livros e depois, se o público aderir, usando um pequeno prefácio que não pretende ser crítico, pretende ser apenas uma coisa que dê vontade aos leitores de ler esses grandes livros. Se acontecer assim, vamos continuar. Publicar desde os latinos até - porque não? - ao Capitão Blood, que é um excelente livro do Sabatini, ou Salgari, isto misturado com o Vergílio, Ovídeo, Balzac, Melville, e por aí fora." (a entrevista toda, aqui)

Aqui o "pequeno prefácio" das Ilusões Perdidas.

"Ora aqui está ele, um dos monstros sagrados da literatura de todos os tempos. Morreu com 49 anos, media um metro e meio, escrevia da meia-noite às oito da manhã, rodeado de candelabros e alimentado a café, e deixou uma obra única. É impossível escolher um dos seus títulos, e este foi-o um pouco ao acaso. No trabalho de Balzac há de tudo - era aquilo a que Victor Hugo chamava um Homem-oceano. Há de tudo e é sempre genial. Podia ter-me decidido por Seraphita, livro muito da minha predilecção, mas as Ilusões Perdidas põem menos dificuldades ao leitor pouco habituado ao seu estilo e, ao mesmo tempo, dão uma razoável ideia do seu génio torrencial, excessivo e, no entanto (parece um paradoxo e não é), estritamente policiado. Fica-se cheio de admiração pela capacidade que este homenzinho tem de cosnstruir um mundo, ele que considerava o romance a "história privada das nações" e achava indispensável ter remexido em toda a vida social, para ser um verdadeiro escritor. Depois de Balzac a literatura evoluiu imenso mas o seu lugar é eterno, seja o que for que a palavra signifique." (A. Lobo Antunes)

até ver, prefiro o personagem Sixte de Chatelêt. só esta figura dá um tratado sobre o género humano, as miudezas, rendilhados, sedução ardilosa, aproveitamento, fineza e bom vestir. admirável. "Habillez l'Apollon du Belvédère ou l'Antinoüs en porteur d'eau, reconnaîtrez-vous alors la divine création du ciseau grec ou romain?")

Lucien terá partes dele próprio, Balzac: "The most revealing letters are the earliest, especially those that he wrote to his sister Laure when he was living in a little room in the east of Paris, trying to turn himself into a writer. They show the twenty-year-old Balzac in the boiler room of his literary career, wrestling with an unwieldy five-act tragedy on the subject of Cromwell, in desperate need of an instruction manual: “A verse tragedy ordinarily contains two thousand lines, which calls for between 8 and 10,000 thoughts, not counting those required by ideas, plot, character”, etc. A few days later, he decided to write the whole play in one go, and then to “colour it in” later on. All he needed now was some genius: “If there’s any for sale in Villeparisis, buy me as much as you can”.

The solution, of course, was staring him in the face: if he could channel into a literary work the wit and exuberance that he showed in letters to his family, he might realize his dual ambition of writing for posterity and earning a lot of money. Having discovered that popular fiction offered better returns than tragedy, he adopted the exotic pseudonym “Lord R’Hoone”, and set about writing historical romances: “Five hundred francs a month equal six thousand a year, and to earn them, all I have to do is write a chapter every morning”. “Before long, Lord R’Hoone will be the man of the moment, the most prolific and likeable of authors . . . and then men, women, children and embryos will be leaping up and down like hills, and I’ll have love affairs galore.” Meanwhile, in case of failure, his sister should try to find him a rich widow. He promised her “five percent commission on the dowry, and some pins”: “Send all you can find to Lord R’Hoone, Paris . . . . Must be sent prepaid, without crack or repair; rich and amiable preferred; prettiness not essential”.

When they read the first edition of Balzac’s correspondence in 1876, many of his literary admirers were shocked by what they saw as cynicism, greed, or vulgarity. The author of Illusions perdues seemed never to have had any illusions to lose: “The urgency of his consuming money-hunger . . . is rudely exposed . . . and the unsightly underside of his discomfort stares us full in the face” (Henry James); “It shows him to have been a splendid man: one would have loved him. But what a concern for money, and so little love of Art!” (Gustave Flaubert). These were harsh judgements. Honoré had to prove to his parents that he could support himself. A family friend was trying to find him a job, and he was in imminent danger of becoming a normal citizen: “I’ll become a clerk, a machine, a circus horse . . . . I’ll be like everyone else”. (daqui, o meu velhinho TLS)

o pobre poeta da província em Paris. é curioso como a ideia do escritor inspirado, o poeta maldito, o artista volátil, persiste ainda tanto como naquela altura.

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