Lucien senhor de Rubempré é vaidoso, como se descreviam os caracteres há muito tempo, a vaidade a destruir a personalidade que deveria estar "tingida" pela modéstia e pela simplicidade. o século dezanove foi castrador quanto baste e mesmo assim não deixou de deixar material de pensamento, padrões e rastos que hoje se desqualificam pela força da psicologia, banalizadora por vezes, mitificadora por outras. no caso da vaidade, narciso, olhar para o umbigo, o diabo que espreita no espelho, o homem encremado e perfumado, o eco, o auto-elogio, monólogo, o rei isolado (espelho meu, mulher masculina) ela aparece justificada por mil e uma faltas da infância, os filhos sós, a educação, o ensino. e, por outro lado, tantas vezes glorificada afinal como também no passado: a omnipotente auto-estima, tesourinho a resguardar a qualquer custo.
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Florine encarregou-se das aquisições; acrescentou três bonitas camisas. Nathan oferece-te uma bengala. Blondet, que ganhou trezentos francos, envia-te uma corrente de ouro. E a bailarina de Des Lupeaux juntou-lhe um relógio de ouro, do tamanho de uma moeda de quarenta francos que um imbecil lhe deu e que não usa: "Não vale nada, é como o que ele obteve!" disse-nos ela. Bixiou, que se juntou a nós no Rocher de Cancale, quis acrescentar um frasco de água de Portugal à encomenda que te enviamos de Paris." (...)
"Para aquele memorável serão, o poeta envergara uma toilette que lhe devia conferir, sem sombra de dúvida, uma superioridade sobre todos os homens. (...) Seguindo a moda da época, à qual se deve a transição dos antigos calções de baile para as ignóbeis calças actuais, ele vestira umas calças pretas, justas. As formas dos homens desenhavam-se, para grande desespero das pessoas magras ou deselegantes; e as de Lucien eram apolínicas. As meias rendadas de seda cinzenta, os sapatos leves, o colete de cetim preto, a gravata, foi tudo escrupulosamente moldado, por assim dizer colado aoa seu corpo. A loura e farta cabeleira frisada realçava-lhe a fronte muito clara, em volta da qual se dispunham graciosamente os anéis do cabelo. Os olhos, ébrios de orgulho, cintilavam. As pequenas mãos efeminadas, enluvadas e bonitas, não deviam transparecer por baixo das luvas."
Ilusões Perdidas, H. Balzac
light gazing, ışığa bakmak
Thursday, July 2, 2009
água de Portugal
Publicado por Ana V. às 11:35 PM
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