iluminações

de pés e pernas dentro de água, gente aqui e ali, observo um grupo de chineses entrar no mar. digo chineses pelas características físicas, estatura baixa, cara redonda, um certo modo de andar como que a fazer vénia. lentos e rápidos a um tempo como apenas os asiáticos conseguem ser, mas impossível saber ao certo a nacionalidade. era uma família. entraram na água em linha recta, furando a desordem dos outros veraneantes despreocupados e sem ritual. à frente da coluna os dois rapazes jovens da família usando óculos de mergulhador. o que me chamou a atenção logo no início foi o facto de um deles ter na mão uma toalha minúscula. a seguir na fila, estava o homem mais velho. também ele tinha uma toalha e lavava-se com ela. esfregou a cara muitas vezes com as mãos em concha, levava água aos ombros, ao cabelo, aos braços. depois uma mulher de idade, pequena e de cabelo curto e branco, toda vestida. a sua alegria era visível, nadava de um lado para o outro energicamente, em contraste com os três primeiros da coluna que apenas permaneciam ali, de pé. atrás dela outro homem de idade, que parecia ser seu marido. ela interrompia as braçadas apenas para lhe passar a toalhita pelas costas. dele posso dizer que era magro e tinha uma expressão na cara que só me faz pensar em empreendimento. no final da fila as duas mulheres restantes, a mais nova e a mais velha, as duas sentadas na rebentação suave das ondas, as duas de fato de banho. ali ficaram todos uma boa meia hora, mantendo sempre esta formação.

mais tarde vim a reencontrá-los no bar da praia, onde tinham ido utilizar os duches públicos. estava a família toda de pé, visivelmente animada, ao lado de uma mesa onde tinham colocado os sacos, bebendo e comendo alguns snacks que tinham trazido consigo. nem uma ponta de areia na pele. quando saí da praia lá estavam eles, aguardando o transporte de volta.

o que espero guardar na memória dos olhos, uma pequena velha chinesa, de túnica e calças coloridas, a nadar sorrindo no mar de verão.