light gazing, ışığa bakmak

Saturday, August 22, 2009

calle, Carmen, hostel


outro lugar com história, se eu lhe fizesse a geografia. como Paris. não faço, mas é ela que vem ter comigo, por vezes, quando olho para uma porta aberta ou quando me fazem lembrar o que já tinha esquecido. para me recordar, também, que talvez não fosse bom estar em dois sítios ao mesmo tempo. cansativo e disperso. as férias podem chegar para pôr o passado no sítio.

não me lembrava que gostava tanto de Sevilha e que, cada vez que cá vim, ficou tanto por fazer. visitas sempre parceladas a darem vontade de vir a sós com a cidade. amarelo, ocre e verde. mais santos só em Valletta, e arcanjos. aqui misturam-se as ordens e os frades, as freiras, as senhoras e o sangre de cristo, se fosse em Sevilla tinha morrido na arena. as cidades são hoje um pouco a caricatura de si próprias para propósitos de mercado e para agradar aos turistas. o autêntico, desconfio, está nos bairros do arrabalde onde vivem os assalariados. e aí as diferenças culturais diluem-se, as marcas deixam bandeiras na áfrica do consumo. o marketing e o corte das esperanças pelo horizonte encapsulado da publicidade. quarenta e dois graus à tarde, trinta e sete às onze da noite.

3 comments:

Anonymous said...

A cidade mais bem cortada que vi ,sevilha;cidade que veste o homem sob medida.
Justa ao tamanho do corpo ela se adapta ,branda e sem quinas ,roupa bem recortada.
Cortada só para um homem,não todo o humano.so´para o homem pequeno que é o sevilhano./sempre á medida do corpo pequeno ou pouco:ao tecto baixo do miope aos pés do coxo.Nunca tem panos sobrando nem bairros longe;sempre ao alcance do pé que não tem bonde
De "Sevilha" joão cabral de melo neto

Anonymous said...

Mas é nas cidades que nos reencontramos, também, Ana. Uma cidade, de resto, mesmo aquela de que mais gostamos, serve exactamente para isso: para nos perdermos e para nos reencontrarmos nela. Eu gosto muito deste seu texto. Não porque esteja bem escrito - estão sempre - mas porque me identifico com ele. Uma cidade é uma memória, sempre. Mas acontece que por vezes essa memória se perde um pouco dentro de nós e algo da cidade se desmorona de alguma forma. Ficam contornos mas perdemos a essência, a alma daquilo que nessa cidade nos apaixonou. Voltamos a ela um dia e reconquistamos a memória, reconquistando essa cidade que perderamos. Num certo sentido - com alguma liberdade de apreciação - é o caso das cidades do Italo Calvino. Uma cidade, bem vistas as coisas, é um jogo da nossa imaginação com um espaço e um desejo. A sua fotografia deixou-me nostálgico. Tem algo que começa a ser uma marca sua, como fotógrafa. Por favor, Ana, tire lá umas fotografias "mázitas" para eu dizer um pouco de mal. Assim pareçe que estou a lisonjeá-la, algo que não gosto. Berlino

Ana V. said...

Quase me esquecia de agradecer o comentário. As cidades do Calvino é um dos meus livros favoritos de sempre. e já fiz a vontade :)

 
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