vida higiénica

"Mario Samigli era um literato com quase sessenta anos. O romance que publicara havia quarenta anos poder-se-ia considerar morto se neste mundo soubessem igualmente morrer as coisas que nunca chegaram a estar vivas. Desalentado e um pouco enfraquecido, Mario, por seu lado, continuou durante muitos anos a viver uma vida pachorrenta que um empregozito de poucas chatices e pequeníssimo rendimento lhe proporcionava. Uma vida assim é higiénica e torna-se ainda mais saudável se, como acontecia com Mario, é temperada por um belo sonho. Na sua idade, continuava a considerar-se destinado à glória, não por aquilo que fizera, nem por aquilo que esperava poder fazer, mas assim mesmo, porque uma grande inércia, essa que lhe impedia qualquer rebelião contra a sua sorte, o preservava do cansativo trabalho de destruir a convicção formada na sua alma há tantos anos. E isto acabava por demonstrar que até a potência do destino tem um limite. A vida tinha-lhe partido alguns ossos, mas deixara-lhe intactos os órgãos mais importantes, dos quais certamente depende a glória. Mario atravessava a sua triste vida sempre acompanhado por um sentimento de satisfação."

o princípio de Um Embuste Perfeito, de Italo Svevo.

tudo online, na língua original, aqui.

"There are three things I always forget. Names, faces and... the third I can't remember." disse Svevo de acordo com os sites de quotes. logo ao lado leio, "És parecido com a Paris Hilton? Descobre agora!" há dias em que o detalhe mais rasteiro pesa que nem chumbo. mudanças. tirar uma, abrir, decidir, deitar aqui. outra. e outra fazendo sempre o mesmo. no fim o monte sai pelas paredes, telhado, desce a escada. quando entrei estava um homem trancado dentro de casa, ficou aliviado por me ver chegar. deve haver um modo tranquilo de levar a tarefa adiante. dizer o mínimo.