light gazing, ışığa bakmak

Sunday, November 22, 2009

A Bicicleta de Faulkner (quando fores velha vais ser uma velha muito esquisita)

(esquisita já sou, quem me dera ser velha).




a pensar que Faulkner tentou uma comédia humana do Mississipi. (e, coincidência, com isto encontrei o meu antigo prof)
agora sem mais parêntesis. de vez em quando faço alguma coisa realmente estimulante, ver Maria do Céu Guerra em palco é sempre isso, uma senhora do teatro [e por falar em senhoras]. os momentos em que actua são um quase abismo em que se vê uma realidade se a realidade existe. conseguir ver profundamente alguém. nesta Bicicleta foi o mesmo. a mãezinha comove profundamente, pelos gestos, a memória, a vida inteira e o presente que conseguiu condensar em todos os momentos de palco. enfrentar-se a si própria no fio da navalha. a minha maior admiração e respeito por momentos de transformação nessa outra pessoa e ainda, por ser possível deste lado da plateia ouvir a mulher que fala e vê-la totalmente, sem artifícios.
o que se passa na Barraca, com Maria do Céu Guerra, costuma ser assim, uma árvore de natal sem enfeites nem dourado nem fitas. a árvore de Giacometti para Godot.

gostei muito da música de Bernardo Sassetti, fantasticamente adequada e evocativa. gostei do cenário de construção e multiplicidade de espaços, sempre um pouco labiríntico embora tenha gostado mais da construção que foi feita para o Inspector. excelente o trabalho de Rita Lello e fantástico o andar citadino decidido de Susana Costa.
o que gostei menos: a cabeleireira, ou seja, o cabelo mais que irritante de Faulkner e que lhe retira toda a hipótese de se parecer, não com a foto do escritor, mas com um escritor. a franja de Claire que interfere às tantas com alguns sentimentos. o que gostei menos ainda, o texto da Bicicleta que tem um Faulkner metido meio à força e que fica aquém, acho, do que se deve ter proposto. não me admira: um texto que se baseia em outro, quando esse outro é tão complexo, dificilmente consegue ganhar espaço de manobra. por mim, o tema da doença de Alzheimer e as três personagens femininas chegavam. mas tendo em conta o texto, Rita Lello e Maria do Céu Guerra, dupla extraordinaire, tiraram tudo o que era possível de lá tirar. uma vénia-longa-muralha-da-china para uma grande actriz.


em nota de rodapé: o café bar do Cinearte deve ser um dos sítios mais agradáveis da cidade de Lisboa.

uma entrevista imperdível com Maria do Céu Guerra (é verdade, que crítico idiota)
aqui, no Rádio Clube, sobre mais um trabalho "sem mácula".

2 comments:

Berlino said...

Quem me dera ser novo, ohhps!
Berlino

Ana V. said...

:) boa semana Berlino !

 
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