light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, November 18, 2009

ler com os olhos e não podia

"se arranjasse uma esposa e acho que era capaz, olhava por mim, metia as almofadas nas fronhas eu que não consigo metê-las, sobra sempre um bocado que não entra, peço

- Tem paciência
e os botões da fronha a estalarem, acendia o esquentador que comigo não trabalha logo ao primeiro fósforo, punha a casa a viver, corrijo o que disse, se conhecesse uma mulher não era capaz e não sou homem tão pouco, não adivinho o que sou, espero que nos arbustos o freguês antes de mim
(uma ocasião dei com uma gaivota doente a ver subir as outras, quando estiver mais fraca as colegas despedaçam-na num rufo, eis o que se designa por vida)
descubra um caminho com mais buxos para desaparecer sem que o notem, provavelmente uma esposa, esse, a introduzir as almofadas nas fronhas numa simplicadade de milagre, porque terão as mulheres os gestos assim fáceis"
no Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?, A. Lobo Antunes

e quem pode.
(e os velhos, que não vêem senão dentro da cabeça, tudo ao último detalhe, o brilho daquele ouro, como o pano passava no chão e as falhas da madeira. o cheiro da cera)

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