"O Palace Hotel da Curia é uma obra maior da arquitectura portuguesa dos anos 20 do Século passado - trata-se de uma quinta original e transformada na altura em resort de luxo, ponto de referência obrigatória quando se fala da história do turismo português. Nesta obra ímpar conjugam-se o génio hoteleiro de Alexandre de Almeida - o pioneiro da moderna indústria hoteleira no nosso país e o génio arquitectónico de Manuel Joaquim Norte júnior, figura incontornável da arquitectura portuguesa do início do séc. XX e o único aclamado vencedor de 5 prémios Valmor.
A ligação entre ambos surge num momento em que, após ter aberto o seu primeiro hotel em Lisboa - o Hotel Metrópole -, Alexandre de almeida abraça o projecto do palácio do Bussaco, uma obra inacabada, sem peças de relevo, electricidade, água corrente ou aquecimento, para o transformar no que é o Palace Hotel do Buçaco.
Norte júnior, antigo arquitecto da casa real, colabora então com Alexandre de Almeida, desde sempre monarquista convicto, e ambos promovem a grande remodelação e requalificação do Buçaco, lançando-o definitivamente como destino turístico de Portugal além fronteiras. Após a abertura, em 1922, de mais dois hotéis em Lisboa - o Europa e o Francfort - Alexandre de almeida sonha em expandir a sua rede hoteleira na sua região de origem: um hotel em Coimbra e um hotel no luso, sua terra natal, e onde começou a sua actividade comercial e industrial. Se o projecto de Coimbra foi avante com o futuro hotel Astória, já as suas ideias não surtiram efeito por dificuldades criadas por seus conterrâneos - santos da casa não fazem milagres - obrigando-o a encontrar alternativas à altura da sua visão e da sua ambição.
Por indicação de amigos, acaba por aterrar na vizinha estância termal da Curia - então grande concorrente do luso - e nela descobre matéria-prima capaz e suficiente para lhe permitir dar largas à sua visão e criatividade. Assim, na antiga quinta do Chalet navega, lança-se na criação no que na altura seria o maior e mais bem equipado hotel de Portugal - o edifício em si, sobre traço de norte júnior, é uma confluência de todos os principais estilos arquitectónicos do começo do séc. XX - existem amplos salões, uma ampla estrutura de serviços de apoio aos clientes: o primeiro posto de telégrafo da Curia, barbearia, cabeleireiro, bazar, restaurante, bar, dancing, garagem, e centenas de quartos de 3 categorias diferentes muito ao sabor da realidade dos transatlânticos - os clientes ficavam nos quartos de primeira e seus funcionários, Chauffeur, governanta, etc, nos demais -.
E depois, tudo isto, o imponente edifício e seus anexos, no centro do imenso parque. O Palace da Curia foi inaugurado em 1926 por sua excelência o presidente da república de então, Marechal Carmona, e nele a par de jantares à americana e chás dançantes, se desenvolveu uma enorme actividade social e desportiva. Em 1931 é construída e inaugurada a capela de Nossa Senhora do Livramento, para culto religioso e celebração de casamentos, ainda hoje em estado original, tal como inúmeras actividades desportivas: campeonatos oficiais de ténis nos seus 2 courts, esgrima, basquetebol, críquete, ginástica, rallies de automóveis e inúmeras actividades lúdicas: peças de teatro, jogos florais, concursos de vestidos de chita, concursos de elegância automóvel, festa das rosas, festas das vindimas, arraiais bairradinos - isto é, um animação dinâmica e contínua para todas as idades - tratou-se de um marco fundamental na história do turismo do nosso país, pois que foi a génese e criação do agora denominado resort turístico.
E não parou. Em 1934 foi inaugurada a piscina paraíso, imponente piscina exterior de dimensões olímpicas e em forma modernista de transatlântico - a 2ª piscina olímpica mais antiga do país, logo a seguir à do sport Lisboa, Algés e Dafundo. Tal piscina surge por visão de Alexandre de Almeida e pelo seu Curia Palace Sports Club, clube fundado em 1929 e que dinamizou e foi pioneiro na criação do forte vínculo entre turismo e lazer desportivo e competição desportiva. Tiveram lugar campeonatos nacionais de natação, provas de saltos e grande parte do Portugal da altura começou a aprender a nadar justamente na piscina do Palace.
Depois vieram os anos negros - da republica espanhola que fez com que o colégio dos apóstolos de s. João e s. Paulo de Valladollid se estabelecesse durante anos na Curia que com seu corpo docente e seus alunos, e tal até à eclosão da guerra civil de Espanha - ainda hoje a anualmente os antigos alunos e suas famílias regressam anualmente à curia para o seu convívio e assembleia-geral, depois da 2ª grande guerra, durante a qual o Palace albergou refugiados, foragidos, expatriados, exército em trânsito e espiões...
Posteriormente, deu-se, de certa forma, o declínio do termalismo e o advento do Algarve, enfim, alterações sociais que fizeram com que a Curia, tal como o luso e a figueira da foz, se assumisse como oferta de alojamento de apoio à cidade de Coimbra, quando esta ainda enfermava da falta de oferta capaz e em número. Passaram muitos anos e muitas remodelações de alojamentos tiveram lugar, mas todas elas com a preocupação de salvaguardar o espírito único dos anos 20 que se respira por todo o edifício.
E entretanto, pois que é um cenário único, ao longo da sua vida, o Palace da Curia já foi local de rodagem de inúmeros filmes nacionais, tais como: o trevo de 4 folhas, com a Beatriz Costa, a cena da dança e a cena do elevador da balada da praia dos cães, o barão de altamira, e mesmo internacionais, como: o Buster's Bedroom, com a Geraldine Chaplin, o Donald Sutherland e a Valentina Cortese, uma longa-metragem do Daniel Schmidt, ou o Palace dos el Tricicle..."
texto que tirei à Ana Mota, no Scribd.
2 comments:
Espero que a fotografia seja sua...porque vale a pena.
-):
Berlino
:)
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