light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, February 17, 2010

encanto-cola



o do palácio magnífico em mim. uma obsessão, um exagero. delírio. impressões que fazem parte do caderno de impressões de quem visita o Palácio de Mafra. de cada vez entro em salas onde nunca tinha estado antes, embora entre sempre pela mesma porta. mais do que impressão: tenho lá entrado sempre por motivos diferentes - com música, casamento visita turística passeio de domingo férias juvenis relações mais ou menos públicas. o próximo será vadiagem solitária.


olhando de fora para os torreões conto seis andares, não sei se existe mais espaço debaixo da terra. no segundo andar o apartamento do rei, à esquerda, o da rainha à direita. com flores. uma avenida no meio a quase sobrevoar a basílica (Cristo, espinhos e sangue entre tu e eu). na loja do museu, padronizada pelo franchising Museus de Portugal, não vi o Memorial do Convento. distracção minha. em várias línguas. nos corredores do palácio corre uma ventania, uma corrente de ar gelada que parece entrar por todas as janelas e portas abertas. mas não há janelas abertas. o peso de um dos carrilhões obrigou a montar andaimes. na basílica, estão a acabar de ser restaurados os dois órgãos. vida de estaleiro, juventude eterna.

de cinco em cinco salas uma cadeira castanha de plástico junto à janela, a cadeira do guarda, quase tudo mulheres. cadeiras enfiadas no vão da janela, ao sol, guardas sentadas nas cadeiras (um silêncio do tamanho de cada quarto), de costas para nós, para mim, girassóis verdadeiros.

há uma certa crueza no frio, nas notas do "mapa", sem adornos, sem querer recriar vida nenhuma, objectos arrumados na despensa dos fundos de alguém que olhamos na galeria dos retratos. fascinante e monumental, a ideia inicial e o abandono de hoje. sou católico não praticante, assim é Mafra também, não praticante. quero lá viver e de noite fugir aos ratos, aos morcegos e aos espíritos dos construtores mortos.

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