imagem de um "português alentejano vivendo na Ásia"
todas as pessoas no Museu de Marinha são extremamente simpáticas e correctas. recebem-nos em qualquer um dos cantos do Museu como se estivessem ao portaló do Dona Amélia, guardando baixelas, relíquias e tesouros. esta devia ser a nossa Fátima.
outro espaço da nacionalidade. em rebites, pequenos detalhes de bacalhoeiros, ossos de baleia, nos quadros sem fortunas na Christie's, apenas sextantes, colecções de nós, fardamentas em manequins. o frio gelado mas a gente da marinha não se anicha em janelas à procura do sol. o bergantim, o escaler da Alfândega e os galões dos almirantes. tantos mapas, rosas dos ventos com um norte vermelho e bebés inchados de sopro em cada semi-ponto. rotas, galeras, galeões, caravelas, o osso do pulso (ou era tornozelo) do Infante.
a boa notícia: o tecto da sala da marinha mercante tinha caído e a obra tinha ficado no mar da palha por tempo quase indefinido mas está agora concluída. em breve serão repostos os expositores e a marinha mercante poderá ser de novo visitada, a par da construção naval.
apesar do local e apesar do anexo onde hidroaviões coabitam com o bergantim real de 40 remos, se não houve engano na contagem, sei que há muito espólio não só por recolher, mas em caves, armazéns, casas particulares, em caixotes que os herdeiros põem no lixo. esta geração do período dourado da marinha mercante está a acabar. guardam mobílias, ementas, cartas, cartões, instrumentos náuticos, fotografias, instruções, louça e cinzeiros de um século mal contado. não há quem lhes receba os objectos, entre este Museu de espaço limitado e uma escola náutica de armazém a abarrotar ou outros clubes espalhados um pouco por Lisboa, um pouco pelo resto do país.
aqui se devia gastar o milhão de Fátima e o milhão do novo Museu dos Coches, tão bem que estava onde estava. mas se o Estado Novo gostava do mar, o mar saiu pela porta das traseiras na mala de Marcelo Caetano.
a cafetaria é desadornada como uma messe pobre da marinhagem. apesar das velas que tapam as vigas do tecto e do verde-rio forte de cadeiras e sofás de napa, apesar da cena caseira, deviamos encontrar aqui uma messe de oficiais de paquete, réplica de um Pátria ou de um Funchal ou de um Santa Maria. na loja comprei um guarda-chuva de noite estrelada para fingir que não há nuvens no meu céu. se quisesse comprar para crianças não podia, não há lugar para miúdos no Museu de Marinha (pouca!) e há qualquer coisa grave nisto tudo.
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