light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, April 14, 2010

dia chumbo


quero escrever com letras pequenas. neste dia chumbo, missa de corpo presente nos Jerónimos. na igreja fechada a turistas, umas duas centenas de pessoas e dois homens da igreja para transportar a cerimónia (há todo um vocabulário ritualístico-religioso que me fugiu, que bom). as paredes um pouco negras a precisar de ser mais condignas, a grande catedral. há toda a gente, por vários motivos, cada pessoa encerrada em memória que transfigura conforme pode ou conforme a imagem se revolta por si. os sacerdotes em meia hora de discurso esquizofrénico e alheado. todos rezaram toda a vida pelo nosso irmão.. e vão continuar a rezar agora e repete de cor estas frases decoradas que não se ouvem, a dor de cada qual mais barulhenta ou menos. e a certa altura os da frente, com vestidos brancos até aos pés e roxos e com fios dourados limpam um copo de metal com afinco. e tiram uma chavinha e abrem uma caixa que é suposto ser prata e glorificam uma bolacha branca, corações ao alto. de algum lado vem um som de coro feminino eléctrico, ou não vi as mulheres, podiam lá estar. os turistas e alunos em visita de estudo -"rebeldes" - a fazer barulho no varandim da igreja, o constante clarão dos flashes que me aborrecem e que me fazem pensar que cada vez que clico estou a tirar qualquer coisa que não é minha. saiam daqui. e o um cardeal patriarca de Lisboa dos anos setecentos que é suposto estar enterrado quase debaixo dos meus pés, morreu com quarenta e sete anos, seria normal ou foi cedo. está tudo no papel e nas colunas de pedra, realidade que não aguenta lázaros nem outras fantasias, estamos nós aqui, um grupo unido por alguma coisa que não se vê. e dela não falo porque é -como a cerimónia católica em igreja de Lisboa - privada, onde é vedado o acesso do flash.

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