light gazing, ışığa bakmak

Thursday, May 6, 2010

naturalismo

quando entra em acção a natureza inclemente e o fado a sociedade e os males do mundo contra o indivíduo indefeso, estavam tão arrumadas as ideias antes de meio mundo decidir que a carnificina eram uma actividade bem melhor . enquanto matavam estropiavam, incansáveis cientistas catalogavam e coleccionavam artefactos incluindo amostras humanas de todo o género. o trabalho mais fascinante era o que se debruçava sobre os gémeos. um bom par de gémeos então era um doce nas mãos dos cientistas. ainda mais risível, hilariante é haver espaço de antena para esse ainda incansável cidadão que orgulhosamente brincou no laboratório das traseiras da guerra, "sem limites", dizia o investigador ou historiador, não cheguei bem a saber do que se tratava.


feito o exorcismo dos maus pensamentos. como outros, também Stephen Crane foi repescado pela crítica. verdade que escrevia a metro e frequentava toda a espécie de bordéis e casas de má fama. na verdade, não deve ter posto a mão em nenhuma mulher que fosse séria pelos parâmetros da época. os regulamentos regras moralidades e obrigações não lhe corriam no sangue curioso e a carne era fraca. produtor de histórias e pelo olho da crítica pintor de retratos com cor e luz. amigo de Conrad, o que me ajuda, o cânone filtrou duas ou três das resmas que escreveu em poucos anos de vida. até aqui cantando. mas Crane tem direito a uma semana enquanto Poe foi misturado com Dickinson na bolsa do ensino e tudo num ápice de dois ou três dias. não esquecendo a contextualização histórica.

no passeio junto às águas que querem desaguar, a indústria ruidosa da ponte, um contínuo em chapéu. passam os velhos apressados, alguns sem camisola 'pare te ver melhor', mulheres de meia-idade -termo em vias de extinção- onde está o meio, os pares de calças brancas bonés óculos de sol e a inevitável bolsa que se carrega à cintura como um cinto, homens velhos pescadores ou pelo menos com uma cana de onde parte o fio que desce na água e o seu olhar a descer também, imagino. mas talvez olhem para outro lugar que não vejo. um grupo ruidoso de gente avulsa a carregar como em guerra apostólica romana estandartes com cruzes e o sangue de santos. de sapatos desportivos bonés e cantis com água, chegam os aguerridos peregrinos por quem meio mundo tem um respeito incompreensível, por andarem a pé e carregarem bandeiras com sangue e murmurarem palavras sem sentido e acreditarem com a própria vida em contos velhos cheios de mortos. o barulho da ponte e não sei em que janela estás lá dentro absorta com os papéis e as notas e o telefone e o diz que disse e os deadlines.

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