"Pessoas assim, como este Sr. José, em toda a parte as encontramos, ocupam o seu tempo, ou o tempo que crêem sobejar-lhes da vida a juntar selos, moedas, medalhas, jarrões, bilhetes-postais, caixas de fósforos, livros, relógios, camisolas desportivas, autógrafos, pedras, bonecos de barro, latas vazias de refrescos, anjinhos, cactos, programas de óperas, isqueiros, canetas, mochos, caixinhas-de-música, garrafas, bonsais, pinturas, canecas, cachimbos, obeliscos de cristal, patos de porcelana, brinquedos antigos, máscaras de carnaval, provavelmente fazem-no por algo a que poderíamos chamar angústia metafísica, talvez por não conseguirem suportar a ideia do caos como regedor único do universo, por isso, com as suas fracas forças e sem ajuda divina, vão tentando pôr alguma ordem no mundo, por um pouco de tempo ainda o conseguem, mas só enquanto puderem defender a sua colecção, porque quando chega o dia de ela se dispersar, e sempre chega esse dia, ou seja por morte ou seja por fadiga do coleccionador, tudo volta ao princípio, tudo torna a confundir-se."
light gazing, ışığa bakmak
Friday, June 18, 2010
volto ao caos, volto
Saramago em Todos os Nomes.
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em geral ou muitas vezes há sempre uma vontade de resposta, até a de mandar passear, ou de dizer também faço isso, como eu neste caso em que falhei só as camisolas desportivas. todas as outras fiz ou devo ter feito no decurso da vida. mas aceito o caos, ó Saramago. e tanto te respondia ontem como daqui a um mês, é o que faz gostar-se da companhia. junto e desfaço junto e desfaço, falta ecológica ou desistência de dar este sentido às coisas e preferir dar aquele numa inconstância de carácter. ou a vontade instintiva mas oposta, construir destruir. não quero que fique nada a não ser meia dúzia de fotos e uma ou duas cartas de amor.
Publicado por Ana V. às 11:36 PM
TAGS Biblioteca de Babel, Saramago
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