light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, July 21, 2010

geografia da memória

ia vendo a natureza volátil das cidades. da praça dom luís I sei só de uma máquina de telex antiquíssima, de fita perfurada, e do bater furioso das teclas. os melhores dispensavam a fita e escreviam ao vivo, uma ligação a outro lado em qualquer parte que era ainda cheia de símbolos e de etiquetas. não se parava. ela era a corredora de fundo da empresa, sempre ligada ao estrangeiro, pelas pancadas dos dedos (o seu piano) e das letras enfileiradas, agora pretas agora vermelhas. uma praça inteira destilada em fita perfurada sem ligação ao mercado da ribeira ali ao lado no mapa, mas noutro país, o das madrugadas de pão desfocado e o ruído intenso das flores e das caixas de verduras. ou o primeiro andar da vinte e quatro de julho, noutra galáxia, de tectos altos e paredes gastas pelo arquivar infinito de papéis inúteis. os turistas sentam-se na esplanada da Brasileira a olhar para outros turistas que passam tentando adivinhar se são locais se são iguais, mas ignorando a barata imensa que se escapou para dentro do meu saco de livros e que depositei algures no instituto britânico depois de uma subida heróica pelo bairro alto. tantas Brasileiras como sacos ou olhos ou turistas.

No comments:

 
Share