não gosto de easy listening. leva-me num minuto para o centro comercial, teletransporta o cheiro a batata frita e sapatos da zara. de manhã entrei num local zen, sala zen depois de sala zen, muitos budas sentados, muito laranja e sândalo. a vida louca do viajante de prateleira: para abater com a percussão ancestral de Stravinsky.
na secção literatura de viagens o Gonçalo Cadilhe está ao lado de Bruce Chatwin. uma nuvem de viajantes percorre agora mesmo o planeta e essa nuvem vai aterrar na secção de literatura de viagens, mais cedo ou mais tarde. os turistas, ou seja quase toda a gente -euetu- levam para casa as viagens dos outros. tal como fiz quando encontrei os 15 Dias no Deserto Americano de Tocqueville. o deserto pode ser imenso, bem como a dimensão da queda dos Iroquois, mas este é um livro de sofá. que símbolo tão genialmente a pensar em mim. está experimentado e quero mais.
Tocqueville encontra um índio moribundo deitado no chão, debaixo de uma árvore e faz isto: "Ao anoitecer, saímos da cidade e, vimos um índio deitado à beira do caminho. Era um jovem. Não se mexia, julgámo-lo morto. Alguns gemidos abafados escapavam-se penosamente do seu peito, o que nos deu a entender que ainda estava vivo, e que se debatia com a embriaguez"... Malcolm Lowry fez outra coisa com a mesma imagem no seu Vulcão, como o Jim fez os índios scattered all over the highway. meio século mais tarde o índio está morto.
levanto os olhos para ver o índio de Lowry mas encontro o dragão branco das nuvens a deslizar sobre a serra. fade in a sound. ao meu lado alguém discute as pipocas do cinema e como alguém se está nas tintas para a administração das pipocas -seriamente, assunto de vida ou de morte. em pé, à minha frente, um homem alto, de bata branca e chapéu de cozinheiro (a pele e o cabelo pistas eslavas) tira uma pequena câmara do bolso e dispara na direcção da serra. no final retrata-se a si mesmo e regressa à cozinha de comida rápida. em vez do índio acabo por ver a família russa (Vladivostok, um pouco fora de mão). muito brancos, altos todos eles, mãe pai primos e tias, sobrinhos, sentados frente ao ecrã do computador comum (olhaolha!).
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